Abrapa e Governo estudam programa para eliminar bicudo

Publicado em: 6 de novembro de 2009

Brasília, 5 – A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) quer suprimir o bicudo das plantações no País. Para isso, pretende lançar no próximo ano, em conjunto com o governo federal, o Programa Abrapa de Combate ao Bicudo, praga que pode ser responsável por perdas de até 60% do cultivo.
O total dos investimentos para combater o inseto estimado pelo presidente da associação, Haroldo Cunha, é de aproximadamente US$ 200 milhões, que devem ficar a cargo principalmente (cerca de 70% do total) dos produtores.

Cunha explicou que nos dois primeiros anos, cada algodoeiro deverá arcar com um valor de US$ 120 a US$ 140 por hectare de área plantada por ano para pulverizar suas plantações, mas que, dependendo das condições de instalação do bicudo, esta quantia poderá chegar a US$ 170. “A partir do terceiro ano, o custo deve cair para US$ 20 ou US$ 30 por hectare plantado ao ano”, calculou. O presidente da Abrapa salientou que o custo inicial que caberá ao produtor já faz parte de suas despesas hoje. “Mas não havia expectativa de reduzir nunca e, com o projeto, devemos baixar esse custo”, previu. Até se chegar ao estágio de custo menor, no entanto, serão necessárias cerca de 15 rodadas de pulverização.

A grande novidade desse projeto é que ele seria desenvolvido em todas as regiões do País ao mesmo tempo, evitando-se, assim, a maior proliferação do inseto. Atualmente, de acordo com Cunha, alguns Estados possuem programas e legislações próprias de combate ao inseto, mas é necessária uma ação conjunta, segundo ele, para tornar o programa eficaz.

Cunha deixou claro que o objetivo do programa não é o de erradicar o bicudo, que, nas Américas, está presente apenas no Brasil. A intenção é a de minimizar sua presença em solo doméstico, visando a recuperar a rentabilidade financeira do algodão. “Não é erradicação, hoje é supressão.

Este não é o caminho hoje em função das características brasileiras”, admitiu.

O presidente da Abrapa relatou que, nos Estados Unidos, o processo de erradicação da praga começou há 25 anos e que, neste momento, o país já está na fase de erradicação do inseto. “Mas não temos o inverno como nos EUA para quebrar ciclo”, considerou. Aqui, o objetivo é transformar a praga de primeira grandeza para nível de praga secundária.

A pior situação no Brasil hoje em relação ao bicudo é na Bahia e, em seguida, algumas regiões de Mato Grosso e Goiás, onde será realizado o projeto-piloto em três fazendas no início da safra, daqui a um mês. “A ideia é ter algum aporte do governo, que ficaria com a parte de fiscalização, divulgação das ações e disponibilidade de técnicos”, enumerou.

O bicudo, que chegou ao Brasil em 1983, foi o responsável pelo extermínio de uma plantação de 1,5 milhão de hectares de algodão no Ceará. Para se ter uma ideia, a plantação total do País hoje é de 840 mil hectares, o que significa um volume de 150 mil toneladas do produto por ano, dos quais 30% são exportados. “No Paraná e em São Paulo, o bicudo foi uma das principais causas do fim da produção”, citou Cunha.

OMC – Com o amadurecimento do programa, a Abrapa quer criar uma legislação específica para se transformar em projeto de lei. “Leis estaduais, existem muitas hoje, mas é preciso uniformizá-las”, considerou. Cunha acredita que a vitória do Brasil na disputa com os Estados Unidos no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) seja um trunfo do setor para conquistar o apoio do governo.

“Não temos ainda o desfecho da OMC, mas pode haver alguma compensação. Pode ser um trunfo de negociação com o governo”, avaliou.

Anvisa – O presidente da Abrapa mostrou-se preocupado com o fato de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter recentemente recomendado a proibição do uso da substância endosulfam, um dos principais componentes dos inseticidas que combatem o bicudo. “Já mandamos nossa posição para a Anvisa”, relatou. De acordo com ele, há produtos similares no mercado quanto à eficácia, mas muito mais caros. “Assim, os custos podem encarecer ainda mais para o produtor”, salientou.

(Célia Froufe)
Broadcasting – Agência Estado

Fonte: Abrapa

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