Algodão brasileiro – a pluma sustentável

Publicado em: 5 de junho de 2019

Fibra natural, ecológica e biodegradável, o algodão vem atravessando os milênios no topo da preferência da humanidade como matéria-prima para a fabricação de suas roupas. E no dia em que o mundo comemora o Dia do Meio Ambiente, 5 de junho, os agricultores brasileiros celebram as conquistas da cotonicultura nacional, que só foram possíveis com a adoção ampla do conceito de sustentabilidade nas lavouras. Em 2019, o país se prepara para colher 2,8 milhões de toneladas de pluma de algodão. No contexto mundial de produção de 26,7 milhões de toneladas, o país é o quarto maior produtor e, pela primeira vez, assume o posto de segundo maior exportador no ranking global.

A relação entre os impressionantes números da cotonicultura nacional e o meio ambiente é mais estreita do que se imagina. E isso tem menos a ver com as condições naturais favoráveis ao cultivo – clima, solo e disponibilidade de terras agricultáveis –, do que com a capacidade do produtor de algodão de manejar de forma correta e racional esses recursos, que embora sejam abundantes e renováveis, são finitos.

Há pouco mais de 20 anos, a sustentabilidade – ambiental, social e econômica – foi entendida como único caminho para fazer renascer e perdurar a produção de algodão no país. A bandeira se tornou um compromisso de todos os cotonicultores, representados pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que implementou o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que estabeleceu critérios para certificar, em nível nacional, a pluma sustentável e opera em benchmark com a ONG suíça Better Cotton Initiative (BCI).

A Better Cotton Initiative (BCI) é referência internacional em licenciamento de algodão produzido sob os parâmetros da sustentabilidade. Trata-se de um programa global que está presente em 21 países, e sua chancela tem sido cada vez mais um diferencial de mercado, neste momento em que há um evidente incremento de procura por produtos produzidos em bases sociais, ambientais e economicamente corretas, como consequência da conscientização do consumidor final.

Com ações assertivas e consenso entre os cotonicultores para a importância das boas práticas, desde que o cultivo do algodão se intensificou no cerrado, o Brasil, que importava a pluma no final dos anos de 1990 passou a ser um dos maiores fornecedores mundiais. Hoje ostenta com orgulho o título de maior provedor global de algodão licenciado pela BCI.

O Benchmark

O programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), criado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), é gerido em cada estado produtor de algodão pelas suas associações filiadas. A parceria referenciada contribuiu para fazer do país o campeão mundial de fibra comprovadamente sustentável, com 31% do montante chancelado pela entidade internacional.

O cotonicultor que adere ao ABR pode, automaticamente, optar por ser, também, licenciado pela BCI. A adesão aos programas é voluntária, e, ao fazê-la, ele se compromete a cumprir um rígido protocolo de boas práticas agrícolas nas suas fazendas, que contempla 224 itens, só na fase de verificação para diagnóstico que antecede a certificação, e outros 178 para a finalização do processo, que culmina com a expedição do certificado e a consequente emissão dos selos que serão fixados nos fardos.

Esses requisitos abarcam desde os aspectos gerenciais dos empreendimentos agrícolas até o cumprimento da legislação brasileira ambiental e trabalhista, que são consideradas das mais avançadas do mundo. Incluem, ainda, a observância das normas de segurança do trabalho, a proibição da utilização de mão de obra infantil e de trabalho forçado ou análogo a escravo, além da proteção ao meio ambiente, com aplicação de boas técnicas agronômicas na produção da commodity.

Números

Do total de algodão produzido no globo, 19% são licenciados pela BCI.
No Brasil, a estimativa de área plantada, certificada ABR, para a safra 2018/19, é de 1.3 milhão de hectares, número 38% superior ao da safra 2017/18.

Já produção de pluma certificada ABR no Brasil na safra 2018/19 é estimada em, aproximadamente, 2,2 milhões de toneladas, número 42% superior ao alcançado na safra 2017/18. Para o BCI, a previsão de licenciamento é de de 2,1 milhões de toneladas de pluma de algodão. “Este número nos indica que 80% da safra colhida no Brasil são de algodão certificado, comprovadamente sustentável. E o percentual de adesão cresce a cada ano”, considera o presidente da Abrapa, Milton Garbugio.

O pilar ambiental

Em linhas gerais, os critérios ambientais preconizados pelo ABR/BCI determinam que a produção de algodão, para receber a certificação/licenciamento, seja alinhada ao Código Florestal Brasileiro e com a Legislação Ambiental. O protocolo elenca itens de verificação e de certificação sobre outorga de água, sobre uso racional do recurso hídrico, com comprometimento e metas de redução de consumo ao longo dos anos, além Itens de verificação e certificação sobre proibição de aplicação de ingredientes ativos que são proibidos por convenções internacionais.
Todas as fazendas certificadas/licenciadas têm um plano de recuperação de áreas degradadas, com metas bem estabelecidas para aumentar a área produtiva da fazenda. O protocolo ABR e BCI também apresenta itens para conservação da fauna e da flora, além de requisitos que incentivam a utilização de produtos biológicos para Manejo Integrado de Pragas e Doenças no algodão. O cumprimento de cada uma das etapas e critérios envolvidos para a obtenção do ABR/BCI é auditado por empresas certificadoras independentes, reconhecidas internacionalmente.

Muito além dos protocolos

Mas a produção sustentável de algodão é muito mais que checklist. Visando aumentar a produtividade nas lavouras, preservar o solo, quebrar o ciclo de pragas e doenças, os produtores adotam técnicas agronômicas diferenciadas, e decisões acertadas desde o início da produção, no centro-oeste brasileiro garantem mais eficiência nas lavouras, qualidade no produto e sustentabilidade no cultivo.

Diversificação

Uma das principais mudanças no modelo de cotonicultura praticado no cerrado, em comparação aos anteriores, foi a substituição da monocultura por uma matriz produtiva diversificada, na qual a commodity é consorciada, principalmente, à soja e ao milho, o que possibilita a alternância entre eles. A técnica da rotação de cultura preserva o solo, otimiza o uso dos insumos agrícolas, como fertilizantes, e traz outras vantagens econômicas, como o balanceamento do plantio de acordo com as condições de preço de mercado e custo de produção de cada um dos cultivos. A alternância entre os cultivos também quebra o ciclo de pragas e doenças do algodoeiro, que põem em risco as lavouras e aumentam o custo de produção.

Plantio direto

Trata-se de uma técnica sustentável na qual o Brasil é líder mundial. Ela consiste em deixar a palha da safra anterior no solo, para criar uma cobertura de matéria orgânica e evitar o impacto de implementos como o arado. Isso preserva a terra e a microfauna que habita nela, evitando a sua exaustão.

Recuperar para crescer

Junto às demais culturas cultivadas nesse modelo de matriz produtiva, o algodão também ajuda a manter o patrimônio natural do cerrado, ao ocupar áreas de antigas pastagens e incorporar tecnologias avançadas em cultivares, máquinas e insumos para intensificar e tornar mais eficiente a produção e o uso dos recursos naturais. Assim, menos aberturas de novas áreas são necessárias para o avanço agrícola.

Regado pela chuva

As condições climáticas do cerrado favoreceram o plantio do algodão em regime de sequeiro, sem irrigação artificial. Na safra 2018/2019, apenas 8% das lavouras de algodão do país são irrigadas, e, ainda assim, o algodão brasileiro se destaca pelo desempenho nas plantações. Quando considerada a produção não irrigada, o Brasil é o campeão mundial de produtividade no algodão. No cômputo geral, é o quinto lugar. Perde para, Austrália, Israel, Turquia e China, nessa ordem, que fazem uso intensivo da irrigação artificial. Alguns deles, em 100% de suas plantações.

Verde conservado

Nas propriedades produtoras de algodão no cerrado, a preservação da mata nativa excede os 20% determinados por lei nas chamadas Reservas Legais (RL), e a conservação das Áreas de Preservação Permanente (APP), como topos de morro, veredas e matas ciliares, é rigorosamente cumprida. Sem observar os aspectos legais, o Brasil não teria como ser quarto maior produtor de algodão mundial nem o segundo maior exportador.

De acordo com dados levantados pela Embrapa Territorial, a agricultura no cerrado não é fonte de desmatamento e sim de conservação, porque converteu áreas de pastagens em lavouras. Nos últimos 17 anos, a perda de vegetação nativa do cerrado foi de 0,25% ao ano.

Sou de Algodão

Entender a importância da sustentabilidade fez diferença dentro de cada fazenda de algodão e ressignificou a pluma do Brasil, hoje reconhecida pelo mercado mundial como sustentável. Mas era preciso que esse conceito também-chegasse ao guarda-roupa. Por isso, a Abrapa lançou, em 2016, na São Paulo Fashion Week, o movimento Sou de Algodão. Seu objetivo é esclarecer e enfatizar as vantagens da matéria-prima para a natureza e para quem usa, e, assim, incrementar o seu consumo no Brasil.

“A Abrapa, junto com a empresa Markestrat/USP, estudou os hábitos de compras de produtos têxteis pelos brasileiros – de vestuário a produtos de casa mesa e banho –, em diversos níchos, e desenhou uma estratégia que pudesse ser mais que um programa institucional, tornando-se uma onda, um movimento capaz de engajar todos os que se preocupam com o bem do planeta, o bem-estar social na produção e, claro, com estilo”, afirma Milton Garbugio.

Mostrando que o algodão, além de ser uma fibra natural, biodegradável, durável, versátil, confortável e bonita, também é sustentável, inclusivo, democrático e a favor da diversidade, dentre muitos outros atributos, o movimento está chegando cada vez mais longe.

“Primeiro, conclamamos os elos da cadeia que atuam diretamente na produção. Depois, fomos conversar com quem pensa a moda e lança as tendências, estilistas, designers, professores, estudantes e a indústria têxtil e de confecção. Agora, cada vez mais, ganhamos a adesão do varejo, e seguimos rumo à nossa meta de conquistar a preferência desse consumidor consciente”, diz o presidente da Abrapa. Em maio, o movimento Sou de Algodão alcançou 100 marcas engajadas e desde a criação nomes importantes da moda têm ajudado a levar essa ideia ainda mais longe, como, Paulo Borges, Martha Medeiros, Chiara Gadaleta, João Pimenta, e muitos outros. (Assessoria de Imprensa Abrapa)

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