Cotonicultores e indústria estão sob clima de desconfiança, dizem fontes

Publicado em: 30 de junho de 2011

Um clima de desconfiança ronda as relações entre cotonicultores e a indústria têxtil brasileira. Os dois lados temem que contratos firmados no passado e que começam a vencer agora, em pleno início da colheita, não sejam cumpridos pela contraparte.

Essa hipótese ganha força porque a volatilidade dos preços do algodão foi muito forte nos últimos meses, levando a fechamento de negócios desde o valor de R$ 1,30 por libra peso – ou seja, abaixo do preço mínimo, de R$ 1,35 por libra peso – até a marca de R$ 4,00 por libra peso. Atualmente, o preço do algodão no mercado à vista está perto de R$ 2,00 por libra peso.

“Existe a preocupação dos dois lados, pois a indústria comprou matéria-prima a R$ 4,00, pagou caro e teme-se que não haja o cumprimento dos contratos”, disse uma fonte do setor.

Isso, na avaliação de pessoas ligadas à cadeia produtiva do algodão, poderia abrir precedente também para os agricultores que negociaram seu produto na ponta de baixa. “Se a indústria não cumprir (os contratos), por que o produtor terá que cumprir?”, questionou outra fonte do setor.

Para evitar que o clima de desconfiança permaneça, a câmara setorial do algodão pretende divulgar um comunicado ressaltando a importância, para todos os elos da cadeia, da manutenção do negócio acertado no passado até o fim, ou seja, o momento do exercício do contrato. “O que vale para um lado, valerá para o outro”, afirmou.

A câmara reúne representantes dos organismos, órgãos e entidades, tanto do setor público como do setor privado, que compõem os elos da cadeia produtiva do agronegócio do algodão.

Entretanto, há quem calcule que, em alguns casos, é mais vantajoso para o cotonicultor que negociou o seu produto antecipadamente em um momento de baixa de preço não honrar o contrato, pagar a multa e colocar seu algodão à venda no mercado spot. “Isso varia caso a caso, mas não é isso o que queremos que aconteça”, disse uma das fontes.

Para a câmara setorial, no entanto, é necessário alertar produtores e indústria sobre a necessidade de obter um equilíbrio de interesses, com o objetivo de que a estrutura de negociação futura, tão utilizada atualmente neste mercado, continue a ser benéfica para vendedores e compradores.

Na safra passada, cerca de 70% da produção brasileira de algodão já havia sido vendida no mercado futuro antes mesmo de a colheita ter início.

Atualmente, a expectativa para a safra 2011/2012 é de uma produção de 1,9 milhão de toneladas de algodão, das quais pouco menos de metade (cerca de 500 mil ou 600 mil toneladas) ainda estão sob o poder dos produtores. O restante já foi vendido antecipadamente.

Com o início da colheita, há 10 dias, o preço do algodão continua a mostrar uma tendência de redução, passando de R$ 2,20 para R$ 2,00 por peso libra no período.

O valor é praticamente a metade do que atingiu no ano passado, quando chegou a ser negociado nas altas históricas. “Aquela época era o fim da entressafra. Todos estavam raspando o tacho dos seus estoques”, lembrou uma das fontes.

Fonte: Abrapa

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