Danos da HELICOVERPA SPP, um relato*

Publicado em: 8 de abril de 2013

Por: Celito E. Breda – Diretor da Abapa / Consultor e Produtor da CÍRCULO VERDE.
Presidente do GBCA – GRUPO BRASILEIRO DOS CONSULTORES DE ALGODÃO.  Abapa/Fba/Abrapa (Diretor).
Deflagramos o problema de Helicoverpa spp na Bahia e Piauí em fevereiro de 2012, na cultura do algodão. No início, achávamos que era a Heliothis e demoramos uns 30-50 dias até uma identificação mais precisa.

Quando descobrimos que se tratava do gênero Helicoverpa começamos uma verdadeira “guerra” aumentando gradativamente as doses e diminuindo gradativamente os intervalos de aplicações.
Fomos descobrindo então, a altos custos, quais doses e produtos seriam eficientes, que logicamente não eram os mesmos que usávamos para a Heliotis (lagarta das maças do algodão).
A conclusão deste episódio resultou em um prejuízo na cultura do algodão da safra 11/12 de aproximadamente R$ 200 milhões.
Isto foi um alerta, e, por incrível que pareça, insuficiente para acordarmos de fato e tomarmos providencias mais severas e determinadas como de fato eram necessárias. E o estrago não parou por aí.
De junho a setembro de 2012, constatamos prejuízos no feijão irrigado. Em outubro de 2012, presenciamos altos índices desta praga na soja irrigada (plantada no inicio de outubro). Esta sequencia de fatos alertaram inicialmente os CONSULTORES da região que se tratava de algo mais grave e providências mais urgentes deveriam ser tomadas.
Conversamos com os pesquisadores Dr. Paulo Degrande, Dr. Walter Jorge dos Santos e Dr. Celso Omoto sobre o ocorrido e eles nos orientaram, compartilhando o conhecimento que tinham sobre o assunto, que também não era muito (“- mas ajudaram um bocado!”), afinal de contas, tratava-se de uma praga quase desconhecida e sua agressividade não poderia mais ser subestimada.
Falamos com a ABAPA (Associação Baiana dos Produtores de Algodão) e decidimos organizar uma MISSÃO TÉCNICA CIENTÍFICA  à AUSTRÁLIA, país que passou pelo mesmo problema e o dominou com êxito.
Assim, ocorreu em fevereiro de 2013, a missão, com 13 participantes à Austrália. Participaram consultores, pesquisadores, gerentes de fazendas e produtores da Bahia e do Brasil. Pessoas que teriam influência nas decisões que, ao seu retorno ao Brasil, deveriam implementar um programa fitossanitário aos moldes daquele país.
Na minha opinião e da maioria dos participantes, foi uma viagem muito bem sucedida tecnicamente e aprendemos bastante sobre questões de organização. Percebemos que na Austrália, se não fosse pela junção de três fatores: UNIÃO, ORGANIZAÇÃO e DETERMINAÇÃO, nenhum programa fitossanitário teria dado certo. Eles sofreram muito com esta praga a ponto de se unirem para montar o MELHOR PROGRAMA FITOSSANITARIO MUNDIAL, na minha opinião.
Voltamos ao Brasil com muita bagagem e vontade de vencer. E, deparamos em nosso retorno, com uma incidência ainda mais grave desta praga. Prejuízos calculados na casa de UM BILHÃO de reais. Organizamos assim, o Fórum da HELICOVERPA SPP, em fevereiro de 2013, em Luis Eduardo Magalhães, BA, com o apoio da Fundeagro, Aiba, Abapa, Fundação BA, Abrapa, MAPA, Adab, Gerentes, Pesquisadores, Sindicatos, Produtores, Colaboradores e Consultores da Bahia. Foi um sucesso total, mais de 1.400 participantes.
Concomitante a tudo isto, iniciamos um trabalho para registro emergencial de produtos químicos e biológicos junto ao MAPA, com o apoio do Governo da Bahia, da Abapa, Aiba, Fundação, Consultores, Abrapa e do Senador Blairo Maggi.
Novamente, estamos obtendo sucesso com estas ações, pois nunca na historia do Brasil, em tempo recorde, obteve-se registro de produtos em apenas 12 dias, desde seu pleito até a divulgação. Ainda temos alguns produtos, como o BENZOATO DE EMAMECTINA, que estão  em vias de aprovação e divulgação (previsto para ocorrer em 3 de abril/2013).
Temos em nossa relação de pedidos de registros emergenciais mais uns 10 produtos químicos e biológicos. Nossa intenção é acelerar os processos de registros de variedades de algodão/soja/milho transgênicas com eficácia às Helicoverpas. Tudo isto com iniciativas de pessoas do Oeste da Bahia e apoio muito forte da ABRAPA e do Governo da Bahia.
Há 20 dias montamos um Grupo Técnico regional liderado pelas associações de Eng. Agrônomos de Barreiras e de Luís Eduardo Magalhães. Participam deste grupo consultores, gerentes, pesquisadores, produtores e colaboradores das instituições, todos voluntários, que se reúnem semanalmente aos sábados.
Além destas reuniões do Grupo Técnico, organizamos o Grupo Gestor do Programa, formado pela ADAB, AIBA, ABAPA, FBA, FUNDEAGRO, AEAB, AGROLEM e EBDA.
Adicionalmente, contratamos alguns pesquisadores que serão fundamentais no processo: Dr. Walter Jorge; Dr. Celso Omoto ; Dr. Paulo Degrande; pesquisadores da Embrapa; dentre outros, que darão  apoio ao Grupo Técnico e ao Grupo Gestor.
Este grupo definirá todas as ações e criará as normativas e leis estaduais para dar suporte ao Programa Fitossanitário em andamento.
Temos outras ações em andamento:

  • Fórum Nacional da Helicoverpa;
  • Criação de um Programa Fitossanitário Nacional, liderado pela EMBRAPA;
  • Viagens Técnicas;
  • Construção de Laboratórios para criação de insetos benéficos; dentre outras.

Estas ações visam a organização de um Programa Fitossanitário de grande impacto em termos de resultados. Não podemos mais suportar outros prejuízos. O Agricultor precisa respirar novamente, pois somaram-se aos prejuízos desta praga, outros grandes prejuízos com a seca, a mosca branca, as lagartas Plusias, e o preço da soja caindo a cada dia.
Recomendamos a todo o Brasil que acorde definitivamente, pois a Embrapa descobriu recentemente que se trata da pior espécie de Helicoverpa armigera. A mais agressiva e de altos custos de controle. Com capacidade de atacar mais de 20 culturas, ela percorre distâncias muito longas (na Austrália até 2 mil km, na espécie H. punctifera).
Os programas só serão bem sucedidos se forem muito bem organizados e tiverem a união e adesão de TODOS. Ao mesmo tempo, as leis precisam dar amparo e serem respeitadas, pois sabemos que somente consciência, no BRASIL, não irá resolver de fato.
Devemos aprender a sermos mais humildes e nos espelharmos em outros países que já vivenciaram tais experiências, como os colegas da Austrália, que são um exemplo de organização. Deixo aqui meu agradecimento especial a eles, que foram muito transparentes e atenciosos conosco. Precisamos também agradecer a todos os pesquisadores, associações, aos consultores (que deflagraram o problema na Bahia) e a todos os políticos e pessoas que, de uma forma ou de outra, colaboraram e continuam colaborando para termos êxito.
Em cinco anos, se assim quisermos, teremos vencido mais este desafio. Veremos que a Helicoverpa veio para nos deixar mais fortes, unidos e organizados. Seremos mais profissionais do que já somos hoje. Dependerá de nós mesmos.

 

*Este artigo faz parte da Série “Girassol Agrícola 30 Anos”, que consiste no envio de textos semanais no primeiro trimestre e posteriormente quinzenais, durante o ano de 2013, pela equipe da Girassol Agrícola e seus convidados, em comemoração aos 30 anos da empresa. Acesse o site (www.girassolagricola.com.br) para visualizar todos os artigos da série já publicados.

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