Exportações de produtos básicos caem até 40% em julho e acendem alerta no governo para dependência de commodities

Publicado em: 12 de agosto de 2011
Os últimos números da balança comercial deixaram em alerta o Palácio do Planalto e aumentaram os temores de que a economia brasileira venha a patinar sem os bons ventos que sopraram sobre as commodities nos últimos anos. Houve queda da quantidade embarcada, de até 40%, da maior parte dos produtos básicos vendidos pelo Brasil em julho. Foi isso que ajudou a precipitar, por exemplo, a iniciativa de conceder aos produtores de manufaturados um crédito financeiro de até 3% de sua receita de exportação – o que surpreendeu o setor privado no anúncio do plano Brasil Maior, a nova política industrial – e que engatilha o estudo de novas medidas cambiais ainda para agosto.
      
A equipe econômica repete que estes dados comprovam o risco de se depender das commodities em um momento em que o mercado internacional ainda luta, sem sucesso, para se recuperar da crise.
      
Em julho, as maiores quedas de quantidade embarcada foram registradas para os óleos combustíveis (40%), carne suína in natura (34,7%), suco de laranja (32,5%), farelo de soja (30%), carne bovina in natura (19,2%), soja em grão (17,9%) e café em grão (17,8%).
      
Minério, açúcar e petróleo (que tem nível de exportação errático) por enquanto estão fora desta lista. Da receita de US$ 22,2 bilhões com exportações em julho, US$ 10,7 bilhões correspondem a commodities – ou seja, praticamente metade da pauta brasileira.
      
Se os preços ainda estão bons, eles não foram suficientes para evitar a queda das exportações de boa parte destes itens. No acumulado de 12 meses, os preços ainda se mantêm altos. Mas o IC-Br, índice calculado pelo Banco Central com base em uma cesta de commodities agropecuárias, metálicas e energéticas, mostra que os primeiros sinais de queda já são visíveis. No segundo trimestre do ano, o indicador já acumula uma redução de pouco mais de 9%. Somente em julho, o recuo foi de 3,34% em comparação com o mês anterior.
      
“Este é um dos riscos de estarmos ao sabor das commodities. Não temos qualquer controle sobre o que pode acontecer com elas já que seus preços têm por base as cotações internacionais” salientou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
      
A presidente Dilma Rousseff está particularmente preocupada com a crise lá fora e mencionou o assunto diversas vezes num discurso de menos de 30 minutos no lançamento do Brasil Maior, terça-feira. Também manifestou apreensão com a turbulência durante reunião reservada com a indústria e seus ministros antes de anunciar o pacote.
      
Ela disse na ocasião que, se 2008 foi uma “crise profunda”, hoje se trata de uma “crise crônica”. Interlocutores garantiram que ela abraçou a causa da indústria nacional porque é ela que “pode salvar o país”. Ontem, com sindicalistas, Dilma voltou à carga e disse que a situação, de gripe, passou a pneumonia crônica.
      
“Essa onda de incertezas já está se refletindo num efeito de redução de riqueza fortíssimo com a queda das bolsas de valores no mundo todo e vai fazer com que a recuperação frágil das economias industrializadas e do mundo em geral seja mais lenta. Isso vai chegar nas commodites – alerta Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
      
Segundo o especialista, o equacionamento dos déficits públicos americano e europeus é complexo e politicamente extremamente desgastante. Por esta razão, considera irreversível o impacto sobre o crescimento econômico mundial. Além disso, a China, um dos países que mais cresce hoje, também deve pisar no freio para combater a inflação de dois dígitos que assola o país e já causa insatisfação na população. A produção industrial chinesa já desacelerou.
      
“A fase de ouro das commodities de 2010 e do começo de 2011 chegou ao fim. Vai começar um processo de acomodação e correção gradual dos preços. A balança tem tido excelente desempenho basicamente por conta dos básicos – lembrou Langoni.
      
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, reconhece os sinais de arrefecimento da economia mundial e seu impacto sobre os preços das commodities brasileiras, setor em que o país é mais competitivo hoje. Mas acredita que o Brasil está preparado para mais do que compensar estas perdas, tendo em vista a enorme quantidade de recursos que deve ingressar no país. Segundo ele, só o setor automotivo deve receber cerca de US$ 8 bilhões até 2015.
      
Para Castro, da AEB, o pacote para a indústria deve ajudar a balança comercial com medidas voltadas para os manufaturados, que têm mais valor agregado do que as commodities. Mesmo assim, ele afirma que as ações do governo sozinhas não serão suficiente para compensar a defesagem cambial, estimada em 30% em relação a 1999.
      
“O dólar até subiu um pouco. Mas ainda está muito longe, não é nem do ótimo, e sim do mais ou menos”.


Fonte: O Globo online

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