Entrevista: “O fato é que estamos errando no controle dessa praga(…)”, diz Dr. Eleusio

Publicado em: 27 de julho de 2015

Entrevista:

Dr. Eleusio Curvelo Freire

Dr. Eleusio Curvelo Freire

Em entrevista durante a 2ª Visita Técnica para apresentação de novas cultivares do algodão, o engenheiro agrônomo, mestre em Agronomia e doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, falou sobre as preocupações na safra 2014/2015, das consequências por conta do excesso de chuva, e fez algumas recomendações aos produtores sobre o controle do bicudo-do-algodoeiro.  Dr. Eleusio, exerceu a função de pesquisador na Embrapa Algodão no período de 1975 a 2005. Foi chefe geral da Embrapa Algodão no período de 1999 a 2003. Possui 32 artigos científicos; 125 trabalhos técnico-científicos; 188 trabalhos completos publicados em Anais de Congressos publicados no Brasil. É também autor de 34 capítulos de livro e de seis livros, além de editor técnico do livro Algodão no Cerrado, editado pela Abrapa. Foi pioneiro nas pesquisas com melhoramento do algodoeiro nos cerrados de Mato Grosso, Goiás e Bahia, tendo desenvolvido 17 cultivares de algodoeiro para uso no cerrado. É consultor técnico especializado em algodão com atuação no cerrado e semi-árido nordestino, através da empresa Cotton Consultoria. Acompanhe:

Quais foram as maiores preocupações nesta safra 2014/2015? Primeiramente, acredito que a quantidade de variedades plantadas, é uma grande preocupação. Não se sabe direito o comportamento dessas variedades e qualidade de fibra. O algodão da Bahia é famoso pela qualidade da fibra, de repente esse número excessivo de variedade pode prejudicar a imagem  desse algodão. Outra preocupação é sobre o bicudo-do-algodoeiro. Temos muito bicudo na lavoura de algodão, provavelmente, isso vai elevar os custos que já estão altos. A terceira preocupação é no tocante aos novos problemas, como apodrecimento excessivo, cavitação principalmente nas cultivares transgênicas, e a mancha-alvo que era uma doença da soja e agora está no algodão também.

Em relação ao apodrecimento por conta do excesso de chuva, quais as consequências que este poderá trazer nesta safra? O algodão que recebeu muita chuva, principalmente da região de Roda Velha, em São Desidério, sofreu apodrecimento de cerca de 10 a 50%. Se essa perda de produção pelo apodrecimento, ficar em torno de 20 a 25%, significa que o produtor que estava pensando em colher cerca de 300 a 350@ por hectare, vai colher cerca de 250 a 270@, logo, o que pode ocorrer é uma perda de rentabilidade, em função desse apodrecimento, mas esses números só serão confirmado no final da colheita.

O que o senhor pode falar e recomendar aos produtores sobre o controle do bicudo-do-algodoeiro? O fato é que estamos errando no controle dessa praga. Nesses trinta anos que o bicudo chegou ao Brasil, não temos feito o controle correto na entrada e na saída do bicudo no algodão. Nesse contexto, a situação da Bahia é quase catastrófica, pela quantidade de aplicações que têm sido feitas, a minha recomendação é iniciar as aplicações nas  bordaduras das lavouras, a partir da primeira semana, após o plantio. Quando o algodão nascer, todas as áreas marginais do cerrado, de pastagem ou de mata, precisarão receber uma aplicação semanal, é assim que vamos matar o bicudo que está voltando do refúgio para dentro da lavoura. Se o produtor, fizer uma por semana, ele vai fazer sete aplicações de bordadura para corresponder uma na área total, então ele vai conseguir segurar o bicudo fora da lavoura por quase 100 dias, isso vai baixar o custo de controle. Quem ainda não começou a colher nesta safra, eu sugiro que faça uma aplicação agora, antes da colheita do algodão. Está sobrando muito bicudo no ponteiro do algodão, 80% desse bicudo vai para o cerrado e depois volta para a lavoura do algodão no ano seguinte. Então, é importante matar agora e no início da próxima safra.  Para a safra 2015/2016, em vez de fazer a bordadura a partir do primeiro botão, façam a partir da primeira semana. Eu tenho certeza que assim conseguiremos chegar ao final da safra com 10 a 12 aplicações para o bicudo. O importante é não deixar ele se instalar, pois depois que ele se instala nas lavouras precisaremos de 30 aplicações.

Sobre a 2ª Visita Técnica do Algodão, o que o senhor gostaria de destacar? Nesses dois dias, os produtores puderam ouvir sobre as diversas variedades, as características e produtividade de cada uma delas. Pelo que vimos, temos mais de 25 variedades, dessas,  cerca de cinco variedades são de ótima qualidade. Acredito que o produtor, a partir dessa informação, deve analisar e incorporá-las no sistema de produção. Temos visto produtores testando uma gama de variedades, eu chamo a atenção para que, se possível, o produtor pare de fazer testes, e comece a trabalhar com o que já foi testado e deu certo. Esse é o trabalho que temos desenvolvido na região. Já fizemos os testes, as informações estão abertas. Vamos trabalhar com o que foi testado e aprovado.

Ascom Abapa

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