Pesquisa científica sobre potencial hídrico da Bahia descarta possibilidade de escassez de água na região

Publicado em: 24 de fevereiro de 2018

Pesquisadores dos EUA propõem modelo sustentável de gestão do recurso natural

Diante do temor de uma possível crise hídrica, mensurar a quantidade de água existente sob o solo baiano pode ser o primeiro passo para garantir que haja água suficiente para o abastecimento humano e para a produção sustentável de alimentos. É o que promete um estudo científico sobre o potencial hídrico do oeste da Bahia, realizado por pesquisadores da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerias. Os resultados parciais dessa pesquisa serão apresentados, pela primeira vez, na próxima segunda-feira (26), às 14h, no Auditório da Assembleia Legislativa da Bahia, durante o I Seminário Internacional de Pesquisa Científica para Políticas Públicas de Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos.

O evento vai reunir representantes do governo e sociedade civil para debater um dos temas mais comentados da atualidade, e os resultados apresentados podem interferir na produção agrícola da Bahia, uma vez que a escassez de água gera insegurança em vários setores, sobretudo no agronegócio, cuja produção depende diretamente dos recursos hídricos disponíveis. Também vão participar do Seminário Internacional agricultores brasileiros e norte-americanos, além de ambientalistas e representantes de órgãos ambientais.

“Não se pode falar em crise hídrica nem mesmo em produção sustentável sem antes mensurar os recursos. E o que o estudo propõe é exatamente quantificar e qualificar a água subterrânea existente na região para, então, propor um modelo de gestão que seja sustentável, garantindo os múltiplos usos dessa água”, pontuou o professor Aziz Galvão, pesquisador do Institute Water for Food (Instituto Água para Alimentos), da Universidade do Nebraska-Lincoln.

Segundo ele, é completamente possível plantar com sustentabilidade, garantindo água para o consumo humano e animal, para a agricultura irrigada e ainda para lazer e recreação. O segredo, revela o pesquisador, está na gestão correta do recurso natural, como é feita em Nebraska, a região mais irrigada dos Estados Unidos. Com uma área de 3,5 milhões de hectares sob pivôs centrais, utilizando em sua maioria águas subterrâneas, o estado norte-americano é referência mundial em gestão de recursos hídricos, com um sistema inovador para produzir alimentos de forma sustentável.

É esta experiência de sucesso que os pesquisadores pretendem trazer para o Brasil, mais especificamente para o oeste da Bahia, conhecido polo produtor de grãos e fibra, e que tem um cenário bastante semelhante ao dos americanos. A região abriga boa parte do Sistema Aquífero Urucuia (SAU), conhecido como a caixa d’água sob o cerrado. Apesar da abundância, os produtores rurais daquela área não usufruem do recurso hídrico e têm sido castigados pela severa estiagem dos últimos cinco anos.

Dos 76.000 km² de extensão do aquífero, que corta cinco estados brasileiros, a parte mais expressiva fica situada no oeste da Bahia. Ele pode ser a chave para o potencial e a segurança hídrica da região. “Nós não vamos parar de comer, então é preciso continuar plantando, por isso a busca por uma agricultura sustentável, porque é ela que garantirá a segurança alimentar do mundo”, disse o pesquisador, ressaltando que a irrigação pode ser a solução e não a vilã da história, desde que alterada a política de gestão das águas.

Para o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Celestino Zanella, o monitoramento do SAU é de extrema importância não só para os agricultores, mas para toda população do oeste baiano, pois ele é a principal fonte de recarga dos rios que abastecem as cidades da região e outros rios do País. “O produtor rural não pode ser visto como vilão. As pessoas precisam entender que ele é o maior interessado em preservar os rios, pois o seu negócio depende diretamente disso. Se o rio secar isso inviabiliza o nosso sistema de produção. É daqui que tiramos o nosso alimento e também o de uma nação inteira. Para continuar produzindo, a gente precisa da água, pois não há outro modo de produzir. Nenhum produtor, em sã consciência, vai investir em um sistema de irrigação caríssimos para implantar em uma área que corre o risco de secar. É ingênuo pensar que alguém quer perder dinheiro e colocar a segurança alimentar em risco”, salientou.

Zanella aposta no estudo científico como uma ferramenta segura para comprovar o potencial hídrico do oeste da Bahia e assegurar as atividades de irrigação, sem causar medo à população ou desequilíbrio ao meio ambiente. “Com isso, teremos um panorama real da situação hídrica na região, atestado por quem mais entende do assunto. O estado de Nebraska, nos Estados Unidos, tem uma capacidade menor que a nossa e irriga uma área bem maior, sem colocar em risco a segurança hídrica. O que queremos é quantificar essa água para que possamos fazer bom uso dela”, defende.

O estudo é financiado pelo governo da Bahia, através da Sema, Inema e Seagri, e conta com o apoio da Aiba, por meio do Programa para Desenvolvimento da Agropecuária (Prodeagro) e será apresentado também no Fórum Mundial da Água, que ocorre em março, em Brasília.

Ascom Aiba

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