Plantação de algodão orgânico gera renda para famílias do semiárido da Paraíba

Publicado em: 2 de fevereiro de 2011

Uma tendência mundial exibida na São Paulo Fashion Week está tomando conta do país: é o uso de matérias-primas produzidas de forma sustentável. Um bom exemplo é o aumento da cultura de algodão orgânico, que já nasce colorido e a valorização dos trabalhadores.

As roupas exibidas em passarelas dos principais desfiles de moda do país e vendidas em lojas sofisticadas estão mudando a vida de pessoas que vivem em lugares bem distantes das prateleiras.

No interior da Paraíba, pequenos agricultores aprenderam com a Embrapa a cultivar algodão sem prejuízo para o meio ambiente nem para a saúde. Valorizado no mundo da moda por ser uma fibra natural, o algodão esconde uma triste realidade: plantado da forma tradicional, é uma das culturas que mais necessitam de agrotóxicos: consome 1/4 de todo inseticida usado no mundo, segundo a Fao – organização das nações das Nações Unidas para alimentação e agricultura. O pesticida contamina o solo e é prejudicial para os agricultores.

“Muita gente adoecia, hoje não, as pessoas têm mais saúde pra trabalhar com esse produto”, conta um agricultor.

A plantação orgânica está devolvendo o algodão ao semiárido da Paraíba. Campina Grande nos anos 30 foi o segundo polo mundial de comércio de algodão, perdendo apenas para Liverpool, na Inglaterra. Mas na década de 80, as plantações acabaram destruídas pelo bicudo, praga que dizimou lavouras em todo o país.

“Na época o pessoal que tinha condições comprava inseticida pra combater e a gente não tinha condições e aí parou de plantar”, explica José Fernandes de Medeiros.

O cultivo sem pesticida, em áreas como esta, dá emprego à famílias que já tinham desistido do algodão. A volta desta cultura ao interior da Paraíba foi possível por causa do empenho de pesquisadores que desenvolveram e conseguiram estabelecer um produto diferenciado. O algodão que além de orgânico, nasce colorido com uma fibra de qualidade para a indústria têxtil.

Na região, o algodão orgânico já garante o sustento de mais de 300 famílias. Os trabalhadores estão na ponta de uma rede que faz moda respeitando a natureza e remunerando cada etapa da produção de forma a estimular o trabalho de todos.

“A gente trabalha desde a distribuição das sementes aos agricultores, em agricultura familiar nos assentamento no semiárido nordestino até compramos deles a pluma de algodão e fazemos alguns tecidos”, fala a presidente de cooperativa Maísa Motta Gadelha.

Maísa é presidente da cooperativa que coordena a produção e vende roupas e artigos de decoração feitos com o algodão orgânico da região. Os materiais que seriam desperdiçados – os mínimos retalhos – são transformados em simpáticos bichinhos e bonecas.

Na pequena confecção, Maria do Socorro desenha e produz uma graciosa linha de roupas para criança. Uma das idealizadoras do projeto, ela procurava uma maneira de driblar a concorrência da indústria têxtil chinesa. Conseguiu muito mais.

“Ampliou minha visão de negócio, porque a gente começou a ter contato com um cliente completamente diferente, preocupado com a saúde do planeta, preocupado como o planeta, com as pessoas, preocupado com a saúde de cada um”, Maria do Socorro Ramos.

Além de dispensar veneno, algodão orgânico colorido não precisa de tingimento, um processo industrial também nocivo ao meio ambiente e dependendo da cor, vale o dobro preço do convencional.

E o que acontece no campo pode fazer diferença na hora de escolher uma roupa. “O consumo consciente engloba essa maneira de começar a entender e pensar – como é feito, aonde é feito, de que maneira é feito aquele produto que você está consumindo”, fala a consultora de moda Chiara Gadaleta.

Por enquanto apenas 1% do algodão produzido no Brasil não usa pesticida, mas o mercado é promissor.

“As pessoas compram esses produtos, empresas do ramo têxtil, pelo seu valor social e pelo valor”, fala o pesquisador da Embrapa Melchior Batista da Silva.

O empresário Oskar Metsavah, um dos primeiros a levantar essa bandeira no Brasil, acredita que mesmo que a oferta de materiais diferenciados não seja suficiente para toda a coleção, se os estilistas passarem a usar aos poucos, os produtores terão condições de crescer.

“Se você faz isso, no ano seguinte provavelmente eles vão dobrar a produção, vão ficar felizes
da vida da vida, vão melhorar economicamente, vão ter mais terras não usando agrotóxicos e assim por diante”.

Design e acabamento garantiram espaço para a moda sustentável nas coleções das grifes internacionais mais badaladas.

“Você tem uma tendência que não é modinha, é consolidada existem pesquisas que comprovam que não são os empresários querendo fazer marketing, é a sociedade demandando um produto mais justo, mais ético”, explica a pesquisadora Lilyan Berlin.

“Quando falar consumo consciente, ninguém precisa parar do consumir, ao contrário, a gente precisar começar a consumir conscientemente”, avisa Chiara.

“Pra mim isso é ser chic de verdade. Isso é o novo luxo”, fala Metsavath.

Fonte: Abrapa

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