Resultados de pesquisas são apresentados em Encontro Técnico

Publicado em: 19 de novembro de 2015
O evento aconteceu no auditório da Fundação Bahia

O evento aconteceu no auditório da Fundação Bahia

Os resultados das pesquisas “Situação Atual da Resistencia de Pragas a Inseticidas e Tecnologias BT na região Oeste da Bahia” e “Subsídios para o Manejo Integrado de Pragas e manejo da resistência de lepidópteros-pragas na paisagem agrícola do Oeste da Bahia”, realizadas respectivamente, pelo o entomologista da Esalq/USP, Dr. Celso Omoto e pelos entomologistas da Embrapa Cerrados, Dra. Silvana Paula-Moraes e Dr. Alexandre Specht, foram apresentados durante o Encontro Técnico da Fundação Bahia, que aconteceu no dia 30 de outubro.

O evento contou com cerca de 150 participantes, entre eles: pesquisadores, produtores, consultores, gerentes de fazendas, técnicos agrícolas, associações e instituições de pesquisa e ensino, autoridade locais e regionais, multinacionais e demais representantes da cadeia produtiva do setor agrícola, sendo realizado pela Fundação Bahia, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Fundeagro, Aiba, Embrapa e Grupo Fitossanitário.

A pesquisa conduzida pelo Dr. Celso Omoto, tratou sobre a “Situação Atual da Resistência de Pragas a Inseticidas e Tecnologias BT na região oeste da Bahia”, tendo sido desenvolvida no Laboratório da Esalq/USP. Segundo o pesquisador, foi concluído que em algumas das tecnologias, a frequência de resistência de algumas das pragas, como spodoptera frugiperda está muito alta. “Vimos que no caso das tecnologias de milho com a proteína Cry 1 Ab e Cry 1F, a frequência de resistência, está muito alta. Isso tem comprometido as tecnologias com duas ou mais proteínas”, disse o pesquisador.

Outro dado confirmado por esses estudos, foi em relação à área de refúgio. “Se tiver área de refúgio, nós podemos aumentar a durabilidade das tecnologias, uma vez que os descendentes do cruzamento do resistente com o suscetível que poderia provir das áreas de refúgio, são controlados pela tecnologia bt. Esse é um resultado muito bom, e os produtores e consultores poderiam enfatizar a importância da implementação de áreas de refúgio”, enfatizou Omoto.

Resistência das pragas – Sobre a resistência das pragas, principalmente a Helicoverpa e Spodoptera a inseticidas, o trabalhou apontou que com o aumento do uso de inseticidas, está havendo um aumento na frequência de resistência. “Inclusive para os produtos mais novos como os diamidas, a frequência já começou a aumentar e se nada for feito, perderemos também os inseticidas. No caso da Helicoverpa, a população que invadiu o Brasil, já trouxe os genes que conferem resistência à grande maioria dos inseticidas, daí a grande dificuldade de controle. Nossos estudos têm mostrados que, de 2013 para cá, ano após ano, a frequência de indivíduos resistentes aumenta”, destacou.

O trabalho, intitulado “Subsídios para o Manejo Integrado de Pragas e manejo da resistência de lepidópteros-pragas na paisagem agrícola do Oeste da Bahia”, conduzido pelos pesquisadores da Embrapa Cerrados, Dra. Silvana Paula-Moraes e Dr. Alexandre Specht, referentes à safra 2014/2015, revela a abundância de três espécies de insetos-praga – Helicoverpa armigera, Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) e Chrysodeixis includens (lagarta falsa-medideira da soja) – nas lavouras do oeste da Bahia. Segundo os pesquisadores, as maiores densidades de H. armigera foram observadas nos núcleos Anel da Soja, Ceolin e Rosário. “A maior densidade pode ser explicada em função da tecnologia utilizada, do sistema de cultivo e do estágio fenológico, sendo que a fase reprodutiva é preferencial para a H. armigera e também tem maior duração que a vegetativa”, explicou Silvana.

Dra.Silvana, da Embrapa Cerrados, apresentou pesquisa realizada com o apoio da Abapa

Dra.Silvana, da Embrapa Cerrados, apresentou pesquisa realizada com o apoio da Abapa

Também foram levantadas as populações de insetos adultos de Elaphria agrotina, S. frugiperda e de C. includens em algodão. A E. agrotina foi a espécie mais numerosa nas capturas pelas armadilhas, e apesar de não causar danos às culturas agrícolas, chamou a atenção dos pesquisadores o fato de lagartas terem sido encontradas na fase final do ciclo do milho, já prestes a ser colhido. “No Mato Grosso, num trabalho colaborativo entre a Embrapa Cerrados e pesquisadores da região, foi reportada se alimentando da base da planta já seca, causando a queda e perdas, já que o milho que fica no chão não é colhido. Nesse caso, temos que continuar observando. É um inseto que prevalece principalmente na época seca. Fizemos alguns testes com algodão, mas a praga não se alimentou dele”, informou a pesquisadora.

“Existem diferenças nas densidades de H. armigera nos diferentes núcleos. Essa é uma informação que tem valor. É claro que é uma fotografia de um momento que já passou, mas ela ajuda a avaliar e nortear ações de manejo, que devem considerar as particularidades de cada microregião”, justifica Silvana.

Em termos de tecnologia utilizada na lavoura, não houve variação significativa no número médio de mariposas de H. armigera nas lavouras Bt e nas áreas de refúgio. No sistema sequeiro, as médias de insetos adultos foram superiores às do irrigado.

Diversidade de espécies – Mais de 60 mil insetos foram analisados durante os seis meses de trabalho. O pesquisador Alexandre Specht avaliou a densidade e a distribuição das principais espécies encontradas nos seis núcleos estudados, com o objetivo de compreender o comportamento e a ocorrência delas na paisagem agrícola.

Nos cinco núcleos com lavouras de soja, milho e algodão Bt, H. armigera, S. frugiperda, C. includens foram as espécies de insetos noctuídeos mais abundantes, juntamente com a E. agrotina. Houve alternância da espécie predominante em função de estágio fenológico das culturas, mas o trio de insetos-pragas apresentou sempre números notadamente superiores aos das demais espécies encontradas.  “O levantamento mostra que, de certa forma, têm sido dadas condições para três espécies, principalmente, no agroecossistema, pois ele está sendo simplificado devido à pressão dos inseticidas, que selecionam as espécies que conseguem sobreviver”, constatou o pesquisador. Ele acrescentou que é preciso estabelecer pesquisas para propor e validar o manejo para que mais espécies possam sobreviver com menos indivíduos. “É uma questão de inovação no manejo para tentar mudar a situação”, afirmou.

Área de refúgio – Outro trabalho foi realizado especificamente para avaliar a efetividade do refúgio estruturado a partir do monitoramento de lagartas e pupas em áreas Bt e não Bt de soja e de algodão, além da tentativa de coleta de insetos adultos. Foi medida a densidade de H. armigera em função da distância entre a área Bt e a respectiva área de refúgio.

O resultado não apontou diferença significativa entre os valores encontrados nas duas áreas. O mesmo foi observado em relação às densidades médias de lagartas, pupas e insetos adultos de S. frugiperda e C. includens. “As áreas de refúgio hoje têm a mesma quantidade de insetos que as áreas com lavouras Bt. Mas isso não quer dizer que a tecnologia Bt não está funcionando, mas que as áreas de refúgio têm sido conduzidas com sistema de manejo de lagartas, como se fossem áreas de cultura convencional, e assim não produzem os insetos não-selecionados (suscetíveis) ao Bt”, explicou Silvana.

A pesquisadora salientou que no manejo de resistência de pragas proposto e aceito no mundo, no qual se propõe a expressão da toxina em alta dose e a área de refúgio, é fundamental a produção de mariposas não selecionadas para reduzir ou, ao menos, retardar o risco de evolução da resistência dos insetos-pragas. “Dentro da amostragem que foi feita, isso efetivamente não está acontecendo”, apontou, acrescentando que área de refúgio não é um aspecto opcional. “Ela é um aspecto fundamental que acompanha a tecnologia Bt e tem que ser plantada”, destacou.

O entendimento da pesquisadora é de que é difícil estabelecer áreas de refúgio no Brasil em que não haja aplicação de inseticidas. Ela explicou que além da ocorrência de lagartas, existem outras pragas que frequentemente atingem níveis de controle que demandam manejo, como o bicudo-do-algodoeiro, o percevejo-da-soja e a mosca-branca. Mesmo no caso da incidência de lagartas, a pesquisadora considera que nos casos em que se detectem níveis de infestação que comprometam a área de refúgio, as pulverizações devem se dar em um nível diferenciado do adotado para as culturas convencionais.

“O fundamental agora é estabelecer o entendimento sobre o nível de controle diferenciado nas áreas de refúgio no País para garantir que os princípios do manejo da resistência à tecnologia e os benefícios da tecnologia Bt de que o agricultor usufrui sejam de médio e longo prazo, como observamos em países como Austrália e Estados Unidos”, disse. A pesquisadora enfatizou que se trata de pesquisa que demanda grandes áreas e recursos. Durante a reunião, um representante da empresa Bayer e membro do Comitê Brasileiro de Ação à Resistência de Inseticidas (Irac-BR) mencionou a proposta de projeto de forma a propor estes nívies de controle diferenciados.

Silvana lembrou que, no momento, não há a perspectiva de muitos lançamentos de novos produtos Bt no mercado. “A liberação dos Bt no Brasil se deu após alguns anos da tecnologia em outros mercados. Quando foram liberados no País, havia algo novo no mercado quase todo ano, então se criou a ideia de que sempre virá coisa nova. Mas o que ouvimos de vários segmentos em outros países é que a ‘gaveta’ de eventos e proteínas novas não está tão cheia”.

Manejo – Para a pesquisadora, para a discussão sobre o manejo da resistência de insetos-praga à tecnologia Bt, considerando os exemplos de países como a Australia, que têm obtido sucesso em retardar problemas de resistência de pragas-alvos, tornam-se necessárias ações e a organização de todos os segmentos envolvidos (empresas detentoras da tecnologia, agricultores, pesquisa, extensão e consultores e o segmento público), sendo do setor produtivo a decisão final da tomada de decisão. “Há um aspecto comportamental. A pesquisa tenta contribuir com informações, mas sozinha não vai conseguir resolver o problema. Isso tem que passar pelo entendimento dos riscos. O que teremos pela frente pode ser muito problemático a curto e médio prazo”, alertou.

A filosofia e os pressupostos do Manejo Integrado de Pragas, na visão de Silvana, ainda não são integralmente adotados no País, mas devem ser colocados em prática. “Quando o MIP foi proposto, na década de 1950, estava focado em uma condição de clima temperado, que é totalmente diferente da nossa. Mas nem por isso podemos desconsiderá-lo. Temos que produzir, cada vez mais, informações para as condições locais para poder viabilizar a sua adoção”, argumentou.

Ela acrescentou que, da mesma forma, o manejo de resistência dos insetos-pragas é fundamental. “Mais uma vez, não adianta importar o que está sendo feito em outros países. Temos que gerar dados para validarmos o que precisa ser aplicado em nossa situação”.

As pesquisas receberam recursos do Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão (Fundeagro), do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), da Embrapa e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e teve o apoio da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), da Fundação Bahia, e de produtores rurais do oeste Baiano.

Ascom Abapa e Ascom Embrapa

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