Sustentabilidade e investimento na classificação de algodão são destaques do Brasil em evento internacional

Publicado em: 1 de novembro de 2017

O empenho da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) em padronizar e harmonizar a classificação instrumental de algodão mereceu destaque na reunião de número 76 do International Cotton Advisory Committee (ICAC), realizada de 23 a 27 de outubro, na cidade de Tashkent, no Uzbequistão. A associação, membro do comitê, participou do evento, que reuniu 317 pessoas, dentre elas, representantes governamentais de 16 países. Com o tema “Algodão na era da globalização e do progresso tecnológico”, o encontro teve foco na inovação, principalmente, como forma de incrementar o consumo da fibra no mundo, que, em 2016, foi de 24 milhões de toneladas, com 27% de participação do algodão, contra 67% do poliéster. A produção mundial deverá aumentar 10%, em 2017/2018, empatando com o crescimento do consumo neste período, estimado nos mesmos 10%. A previsão é de que a China volte a comprar mais algodão.

Com dois representantes no evento, o ex-presidente João Luiz Ribas Pessa e o consultor Andrew Macdonald, a Abrapa foi elogiada por seu Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), pelo especialista do Centro Global de Testagem e Pesquisa do Algodão (ICA Bremen), instituição de referência mundial que congrega o Faserinstitut Bremen, o Bremen Fibre Institute (FIBRE) e o Bremer Baumwollbörse (BBB), Axel Drieling.  Em junho deste ano, ele visitou o CBRA, no processo de preparação para a certificação internacional, onde treinou técnicos do centro e representantes dos laboratórios de classificação por HVI brasileiros. “Drieling se disse muito impressionado com o que viu, e com o trabalho da Abrapa”, conta Pessa.

No evento, a Abrapa representou oficialmente o Brasil no Commercial Standardization of Instrument Testing of Cotton (CSITC), e também no Private Sector Advisory Panel (PSAP). A reunião do CSITC foi moderada por Andrew Macdonald, na ocasião, reeleito ao cargo de presidente deste. “Discutimos estratégias para aumentar a classificação por instrumentos em todos os países, como adotado no Brasil e nos Estados Unidos. Hoje, cada vez mais, a classificação manual, considerada ultrapassada, vai sendo abandonada. Já não faz mais sentido num mundo digital”, explica Macdonald.

Parte importante do encontro é a entrega das declarações (Member Statements), pelos países membros, ao ICAC. Elas se tornam documentos oficiais e, posteriormente, ficam disponíveis no site da entidade. O Brasil relatou os números das últimas safras, assim como os dados da Embrapa sobre a ocupação territorial da agricultura no Brasil. “Mostramos que somos um dos países que mais preservam a natureza, uma vez que mantemos 20,5% da vegetação nos imóveis rurais como Reserva Legal, 13% da vegetação nativa em unidades de conservação, 14% em terras indígenas, dentre outros, que somam 66,3% da cobertura vegetal do nosso território intactos e protegidos por lei. Enquanto isso, mesmo sendo um grande produtor de alimentos, lavouras e florestas plantadas ocupam apenas 9% do território nacional”, afirmou o ex-presidente da Abrapa. Esses dados também foram apresentados em plenário, para todas as delegações.

A Embrapa Algodão também participou do evento, representada pelo chefe-geral, Sebastião Barbosa, que explanou sobre as oportunidades para a transferência de tecnologia, dando como exemplo o programa brasileiro de apoio aos países africanos na cotonicultura. A iniciativa visa a obtenção de melhores resultados nas lavouras de algodão daqueles países, através da introdução novas cultivares e da adoção de boas práticas produtivas, como o sistema de plantio direto na palha, que ajuda a preservar o solo, e o aperfeiçoamento das técnicas na colheita e no beneficiamento, aproveitando o know how brasileiro em todos esse aspectos.

 

Diversidade

A grade de temas discutidos na reunião do ICAC foi extensa e passou por questões relativas ao antes, durante e depois da etapa de lavoura, desde as variedades adotadas, até as questões de beneficiamento e transporte da fibra. “A grande diversidade de países participantes fomenta o contraditório e, em algumas situações, até acalora o debate, mas enriquece muito o encontro”, disse Pessa. Um exemplo de divergência de posicionamento foi a defesa da Turquia ao plantio de algodão livre de OGMs, mesmo reconhecendo o direito de cada país à opção. A Austrália contra argumentou, apresentando dados sobre sua experiência de 20 anos de adoção da transgenia, que resultou em diminuição do uso de água e de inseticidas, sem prejuízo à produtividade e à qualidade do algodão.

“Ficou claro que, selecionando a variedade adequada, com um plano de plantio coerente, investimento em controle integrado de pragas e doenças e monitoramento, não há como correr riscos com a transgenia”, afirma Pessa. O representante da Abrapa lembra que a água na Austrália, que produz algodão com irrigação em todas as suas lavouras, é crucial para a manutenção da atividade. No Brasil, a quase a totalidade das plantações se dá em regime de sequeiro.

 

Natural, sustentável e renovável

Uma das resoluções da reunião do ICAC em Tashkent, apresentada pelo Brasil, foi estabelecer estratégias de aumento de consumo mundial da fibra, com um trabalho governamental com foco em competitividade frente às matérias-primas concorrentes, sintéticas. A ideia é que os governos adotem como norma, para as peças confeccionadas, que as etiquetas especifiquem o tecido, com o reforço na informação de que o algodão é natural, sustentável e renovável. “Essa deliberação nos mostra o quanto a Abrapa e o Brasil estão na vanguarda, uma vez que é exatamente disso que trata o nosso movimento Sou de Algodão. É mais uma frente no muito que temos a nos orgulhar de apresentar em eventos como esse”, conclui Pessa.

Imprensa Abrapa

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