Uma década de instabilidade nos preços das commodities

Publicado em: 21 de junho de 2011

As commodities agrícolas terão mais uma década de preços em alta e grande volatilidade, de acordo com estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), antecipado pelo Valor. Os preços das carnes devem subir cerca de 50% nesta década em comparação com a anterior, e os dos cereais, 20%. As projeções para petróleo e biocombustíveis vão na mesma direção.

A demanda cresceu, especialmente nos mercados emergentes, com o aumento da renda, e a produção não acompanhou o ritmo. Segundo o estudo, a produção agrícola deve crescer, em média, 1,7% ao ano nesta década, menos do que os 2,6% anuais da década passada. A disponibilidade de boas terras diminui e as culturas têm que avançar em áreas de produção mais difíceis e caras. O aumento do consumo de biocombustível também tem impacto. A OCDE e a FAO calculam que 30% da cana, 15% dos óleos vegetais e 13% dos grãos vão virar etanol e biodiesel.

A alta das commodities veio para ficar, apesar de haver muita volatilidade no curto prazo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) captura bem o movimento. O mais recente levantamento do World Economic Outlook (WEO) informa que, depois do recuo de 15,7% dos preços das commodities (exceto petróleo), em 2009, causado pela crise internacional, os preços voltaram a subir acentuadamente, saltando 26,3% em 2010. Neste ano, os preços subirão menos por causa da desaceleração de algumas economias. O FMI acaba de reduzir em 3,5 pontos percentuais o aumento esperado para este ano, que, ainda assim, será de 21,6%.

Tanto o estudo da OCDE e FAO quanto o do FMI apontam os países produtores de commodities como os maiores beneficiados dessa tendência, com destaque para o Brasil, que domina um quarto do comércio internacional de carnes e metade do de cana, só para citar alguns produtos.

A bênção, porém, pode se tornar uma maldição, se as autoridades econômicas não levarem em conta o impacto da alta das commodities tanto no câmbio quanto na inflação. A elevação das commodities vai aumentar mais o termo de troca da balança comercial brasileira e valorizar o câmbio. Políticas adequadas devem ser adotadas para evitar prejuízos graves à indústria.

O impacto da alta das commodities na inflação é mais abrangente e atinge o mundo todo. Tanto é que mobilizou o G-20, cujos ministros da Agricultura vão analisar as conclusões do estudo da OCDE e FAO nesta semana. Desde que assumiu a presidência do G-20, neste ano, o chefe de Estado francês, Nicolas Sarkozy, colocou na mesa de discussão a elevação das commodities como ameaça ao crescimento global e o papel da especulação financeira no mercado.

Sarkozy não deixa de ter razão. De acordo com o FMI, a inflação global acelerou de 3,5% em doze meses no último trimestre de 2010 para 4% no primeiro trimestre deste ano, acima do projetado em abril, entre outros motivos por causa do aumento maior do que o esperado das commodities. Em um reforço involuntário à campanha de Sarkozy, o FMI avalia que os preços das commodities caíram em maio em boa parte por causa da reversão de posições especulativas em derivativos de commodities desencadeada pela previsão de desaceleração global.

No Brasil, o impacto da elevação das commodities na inflação é monitorado pelo Comitê de Política Monetária (Copom). No fim de 2010, ao justificar a insistência em manter a taxa básica de juros estável antes das eleições, o Copom alegou a expectativa de que as commodities estavam se acomodando. A realidade mostrou que estava enganado.

Na ata da reunião realizada neste mês, o Copom citou a redução dos preços das commodities em consequência da desaceleração da economia global como um dos fatores que levarão a inflação a convergir para o centro da meta de 4,5% no quarto trimestre deste ano. A entrada da safra 2011/2012 já produz até deflação neste mês.

O índice de commodities calculado pelo Banco Central, o IC-Br, recuou 4,47% em maio, depois de ter caído 1,64% em abril, mas está em patamar elevado, acumulando elevação de 31,29% em doze meses, sendo 44,91% apenas nos produtos agropecuários.

O Copom continua otimista, mas parece mais alerta. Sabiamente registrou na ata deste mês que a evolução das commodities ainda está “envolta em grande incerteza” e que “são relevantes os riscos” ligados a esses produtos.
Fonte: Abrapa

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