Uma mulher multifacetada

Publicado em: 12 de maio de 2015

ENTREVISTA | Carminha Maria Missio – Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de LEM

 Escrita por: FÁTIMA VASCONCELOS NUNES

Fotos: FÁTIMA VASCONCELOS NUNES

Carminha Maria Missio - Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de LEM

Carminha Maria Missio – Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de LEM

Nascida em Espumoso, cidadezinha do planalto gaúcho, Carminha vem de família numerosa – a quarta, em dez irmãos – que praticava a agricultura familiar. Como todos os descendentes de pequenos produtores, dividia o tempo entre a escola e a lida na propriedade, entre enxada, foicinha e facão, capinando, ceifando trigo e colhendo milho, cortando pasto e tirando leite. Já moça, a busca pelo crescimento intelectual a levou à Escola de Formação Familiar do Sindicado dos Trabalhadores Rurais do município: “foi como uma janela que se abrisse para o mundo, mostrando um horizonte a ser conquistado”, lembra.

Em 1980, recém-casada com o engenheiro agrônomo Celito Missio, mudou-se para Mato Grosso, ano em que também seu pai, Amélio, e alguns de seus irmãos, em busca de terras baratas e com potencial produtivo, começaram a desbravar uma fazenda no Oeste da Bahia, onde se estabeleceram e, mais tarde, constituíram o Condomínio Gatto.

Em 1986, o jovem casal iniciava uma incipiente atividade agrícola em terras baianas, na região de Placas, com o apoio incondicional dos irmãos e a parceria indispensável dos cunhados Francisco e, mais tarde, Carlos Missio.

Em 1998, a região já estava mais desenvolvida quando, unindo o crescimento das lavouras e estrutura dos irmãos ao conhecimento do marido no setor sementeiro, nasceu outra sociedade, onde Carminha tem participação: a Sementes Oilema.

Com os filhos criados, muitos amigos e experiências vividas, foi em 2004, após ela concluir a faculdade de Direito, que o casal decidiu mudar-se para LEM, e em 2005 começava uma nova etapa, com mais experiência e a mesma vontade e dedicação aos negócios e à sociedade.

Em sua história, orgulha-se dos mais de 12 anos de voluntariado como diretora e presidente da APAE de Ponta Porã, MS, e da veia artística revelada na literatura – é autora de um livro de poesias e ocupa uma Cadeira na Academia Pontaporanense de Letras – e na pintura em telas, tecidos e até em muros de sua casa e da cidade. Também dedicou-se ao Escotismo, tendo sido chefe por vários anos.

Mais tarde, conheceria um pouco do mundo ao acolher, em sua família, através do intercâmbio internacional de estudantes do Rotary e do AFS, mais de 10 intercambistas de diferentes nacionalidades e priorizando que seus três filhos conhecessem outras culturas vivendo fora.

Ela agora assume a presidência do Sindicato Rural de LEM. Mas, para uma mulher multifacetada, que carrega no DNA a coragem e a certeza de que a vida é um eterno aprendizado, será apenas mais um desafio que ela encara com naturalidade e a firmeza de quem pretende conduzir a entidade com base na Capacitação, na Profissionalização e na União.

Jornal Classe A – Sua família foi uma das pioneiras da região. Como começou essa história?
Carminha Missio – Meu pai e irmãos conheceram a região em 1980. Foi meu pai, na ânsia por um futuro melhor quem primeiro decidiu comprar uma terrinha para meus irmãos desbravarem. Eu e meu marido, ainda não tínhamos condições na época, mas sempre acreditamos no potencial da região. Assim, juntamos algumas economias e, com parte de uma herança que meu pai adiantou, conseguimos comprar uma pequena área na região de Placas também. Tudo era muito novo, mas meu pai era um visionário e investiu todos os sonhos aqui, incentivando e apoiando meus irmãos que passavam todo tipo de dificuldade.

JCA – Mas há uma passagem triste nessa história…
Carminha – Sim. Depois que meus irmãos já estavam bem estabelecidos com suas famílias,  meus pais resolveram arrendar o que ainda os mantinha em Espumoso e se mudar definitivamente com meu irmão mais velho para LEM, unindo a maior parte desta grande família. Há apenas três meses morando aqui, foram acompanhar a colheita, era um domingo de Páscoa, quando colidiram atrás de um trator no Anel da Soja e não resistiram. Foi um golpe que nos fez partir em busca de um alento. Hoje vejo como uma missão, pois conseguiram realizar o sonho de estarem no Oeste da Bahia, neste chão que haviam escolhido, e assim como escolheram juntos, também partiram juntos. Isso nos deu força para prosseguir.

JCA –  …foi quando surgiu a Oilema…
Carminha – Na época, meus irmãos já tinham a característica reconhecida de produzir com esmero a própria semente para o plantio e também para alguns vizinhos. Partindo das instalações já existentes e aliado ao conhecimento e experiência de meu marido, nesta área, surgiu uma nova parceria que resultou num próspero negócio: a produção de sementes de forma profissional. Como isto ocorreu logo após o impacto da perda dos meus pais, decidimos conjuntamente homenageá-los com a marca “OILEMA”, que de trás pra frente lê-se “AMELIO.”

JCA – Quem é Carminha Missio?
Carminha – Uma mulher que não sabe ficar parada. Lavo o meu carro, cuido do jardim, da horta, eu gosto muito de trabalhar, nasci na roça e me criei trabalhando.  Acho que isso vem enraizado na gente. Eu tinha cursado somente até a 5ª série, e decidi estudar aos 45 anos, quando os meus filhos estavam se preparando para o vestibular e percebi que viveria a ‘Síndrome do ninho vazio’. Então concluí o primeiro e segundo graus e prestei o vestibular para Direito. Formei-me bacharel e fiz uma pós-graduação em Direito do Trabalho. Hoje, gosto mesmo é de dizer que sou avó coruja de duas menininhas que me matam de saudade, pois moram em São Paulo, onde  meu filho constituiu família.

JCA – O que gosta de fazer, quando não está trabalhando?
Carminha –  Eu gosto muito de ler – “Meu Pé de Laranja Lima”, do José Mauro de Vasconcelos, foi um dos livros que marcaram a minha vida. Também assisto filmes na TV, programas no Discovery… costumo costurar e escrevo bastante. Mesmo não sendo uma exímia escritora, sempre tive sensibilidade para me expressar e já tenho algumas publicações de poesias e contos.

JCA – De que forma irá conduzir sua administração, à frente do Sindicato?
Carminha – Inicialmente, agradeço a indicação do meu nome, em especial, ao Vanir Kölln e ao vice-Presidente Aristeu Pellenz, por acreditarem em mim. Não conduzirei o Sindicato sozinha, tenho uma  diretoria comprometida, e a certeza de que contarei com o apoio da FAEB e do SENAR. Vamos trabalhar no sentido de promover a união dos associados do Sindicato em torno da instituição que legitimamente lhes representa. Oportunizar avanços na capacitação e profissionalização dos associados e colaboradores, além de fortalecer mais a integração com órgãos competentes e instituições de classe relacionados ao AGRO. É imprescindível que se mantenha o agricultor atualizado nesse universo desafiador. Nossa bandeira será sempre em defesa dos interesses dos agricultores de acordo com os limites que a lei nos permitir.

JCA – Para quem o sindicato é mais importante?
Carminha –  Para os produtores. É essa a categoria que traduz a importância do sindicato. Vamos valorizar quem está no campo produzindo. É ele que promove o desenvolvimento da cadeia produtiva do agronegócio, que beneficia a maior parte da população da nossa cidade e região.

JCA – Qual será o caminho?
Carminha – Em primeiro lugar, escutar a voz dos produtores, e aí sim, criar caminhos que venham ao encontro de suas necessidades. Muita coisa já vem sendo feita, mas a expansão vertiginosa do agronegócio exige que avancemos muito mais.  Buscaremos uma proximidade ainda maior com as demais instituições do AGRO, a exemplo da  ABAPA, AIBA, FUNDEAGRO, FUNDAÇÃO-BA, APROSOJA, Associações de Agrônomos,  bem como com as  prefeituras da área de atuação do nosso SINDICATO.

JCA – E como deverá se constituir essa nova diretoria?
Carminha –  Além da diretoria executiva eleita  para os próximos três anos e do conselho consultivo, também estamos resgatando e implementando as diretorias técnicas, como a de agricultura, por exemplo, que abrigará temas relacionados a grãos, fibras e fruticultura.  Criamos a diretoria de pecuária, de capacitação, de logística e infraestrutura, diretoria de meio ambiente e de irrigação, e também a diretoria jurídica que cuidará de  tributos, trabalhistas e contratos.

JCA – Como pretende conciliar sua agenda?
Carminha –  Minhas manhãs pretendo dedicar ao sindicato, e à tarde continuarei contribuindo com  o negócio da família. Além disso, tenho outras atividades assistenciais junto a APAE/LEM e Federação das APAES da Bahia, onde sou coordenadora regional para a região Oeste.  Também integro o Conselho Escolar da Escola Municipal Amélio Gatto.

JCA – Como lida com a saúde?
Carminha –  À noite, sempre que posso, faço exercícios e caminhadas. Como muitas frutas e verduras, não bebo nada alcoólico e gosto de estar em contato com a natureza. Sempre pratiquei muita atividade física, já fiz rapel na época de escotismo, também fui muito aventureira, hoje eu estou mais sossegada.

JCA – Uma mensagem, para encerrar…
Carminha –   As pessoas nascem e morrem aprendendo. Conviver e  partilhar experiências valorizando pequenos detalhes, é a melhor forma de enriquecermos intelectualmente. Todos têmos que saber ouvir, para tecer opiniões. Só posso dizer que dedicação e respeito à Instituição nunca irão faltar. Aqui, seremos NÓS. Faremos, juntos, um trabalho pela nossa classe, em favor da nossa categoria.

Fonte: Jornal Classe A

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