Brasil deu grande salto na qualidade do algodão, mas pode melhorar mais

Publicado em: 8 de setembro de 2015

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O tema da qualidade do algodão brasileiro esteve no foco do debate realizado na manhã do terceiro dia do CBA (3/09) e reuniu centenas de participantes na principal sala do evento. No palco, consultores, produtores e compradores, um brasileiro e outro estrangeiro, abordaram a questão sob o ponto de vista do seu segmento, mas um consenso ficou claro: o Brasil deu um salto grande de qualidade, mas ainda há melhoras importantes a serem feitas para que o país possa ampliar sua participação no mercado interno e externo.

Leon Piçon, da Orta Anadolu, da Turquia, destacou que desde 2012 o fio brasileiro começou a ficar um pouco inferior em termos de desempenho. “Comparando o algodão brasileiro com aquele produzido em outras regiões do mundo, o produto do Brasil tem menor nível de uniformidade, apresenta variação muito grande no comprimento de fibra e um alto teor de naps. É o maior entre os nossos fornecedores”, destacou.

O palestrante explicou que esses são parâmetros que eles utilizam quando compram de origens diferentes. “Embora sejam parâmetros que não estejam especificados nos contratos de algodão, são termos especiais e seu desempenho tem um peso forte na decisão”. O importador também falou dos aspectos positivos brasileiros e destacou principalmente o fato de ser uma origem reconhecida por honrar seus contratos.

A Orta Anadolu é uma indústria especializada em jeans. Piçon explica que o processo de produção do denin passa por sete estágios e, em dois deles, a especificação do algodão é muito importante: na fiação e na tecelagem. “Tomamos muito cuidado com uniformidade e teor de fibra curta nos estágios intermediários. O micronaire, por exemplo, é muito importante porque tem a ver com a capacidade de tingir o material”, explica.

A indústria nacional esteve representada no debate por Antonio Fabelo, da mineira Indústria Cataguases. Embora situada no Brasil, a empresa tem parte de sua demanda suprida por outras origens. “Há uma limitação do algodão brasileiro nos fios mais finos que 50 Ne. Nossos tecidos são usados para fazer roupas leves e roupas de cama de alto valor agregado”, explicou.

O palestrante informou que sua empresa trabalha com o algodão brasileiro até 40 Ne, a partir daí importam matéria-prima do Egito, Israel e Espanha, entre outros.  “Nós precisamos de fibras longas”, diz, e indica uma razão prática: o famoso caimento do tecido. “Ele é afetado pelo comprimento da fibra. A fibra média, basicamente a brasileira, tem caimento inferior ao da fibra longa, que é a que nos interessa. A longa também tem mais brilho. O fio é mais sedoso, tem menos porosidade”, explica.

Em condições normais de produção, ou seja, 500 toneladas de consumo/mês, a Cataguazes traz 20% desse total de fora. “Temos ainda uns 10% ou 15% de titulação ainda mais fina. Aí, trazemos fios do Peru e da Índia para a demanda 100”, informa.

Quem deu voz ao produtor nesse debate foi Celestino Zanella, da Associação Baiana dos Produtores de Algodão. “O que afeta a Abapa, afeta também as demais regiões”, avisou logo no início de sua fala. O paranaense radicado no Oeste baiano fez uma lista de itens que são importantes na produção de um algodão de qualidade. Começou citando a correção do solo. “Tratos culturais são um problema sério. O produtor deve cuidar de forma eficaz de todas as etapas do desenvolvimento da planta para garantir uma fibra de qualidade”, destacou, mencionando a importância do combate às pragas. Zanella citou, entre outros itens, o clima e a colheita como fatores que interferem na qualidade. “As colheitadeiras mecânicas melhoraram muito a nossa vida, mas é preciso atentar para a velocidade e a regulagem das placas”.

A fala do produtor reforçou a demanda por qualidade melhor, presente na fala dos compradores, quando mencionou a falta de padronização, um item citado por Leon Piçon como uma deficiência do Brasil. “A falta de padronização atrapalha o relacionamento com o cliente porque ele volta querendo a mesma fibra que comprou no ano anterior e não temos para dar. Estamos caminhando para melhorar, mas precisamos ficar atentos”, finalizou.

Eleusio Freire, da Cotton Consultoria, destacou a certificação do produto nacional, que já atinge 71% (ABR) e 66% (BCI), como um aspecto bastante positivo. “É um algodão rastreável, que tem requisitos de sustentabilidade e é monitorado por técnicos semanalmente”. Entre os gargalos da produção, citou as pragas e doenças onerosas, o custo de produção elevado e a dependência externa de defensivos e tecnologia como a transgenia.  Já na qualidade, listou o açúcar na fibra e o excesso de cultivares usadas em uma mesma fazenda. “Hoje temos 28 cultivares, das quais 22 são comercializadas”. O consultor, que está no mercado de algodão há mais de 40 anos, mencionou também como pontos negativos na qualidade o fato de não serem formados lotes por qualidade e a piora recente no comprimento da fibra.

Dentro de uma abordagem mais técnica, Renildo Minon, da Universidade Federal do Mato Grosso, falou sobre os ‘Aspectos da colheita mecanizada para obtenção de um algodão de qualidade’. “Se as máquinas estão bem reguladas, as placas de pressão bem apertadas, as perdas podem ser reduzidas. Elas devem ficar abaixo de 5%. É para isso que estamos trabalhando”, ressaltou. O especialista destacou ainda que regulagens inadequadas levam a perdas dos fardos. “É preciso atentar para a regulagem e também para a limpeza periódica das máquinas, para evitar a contaminação do algodão”.

Já Daniel Gonzales, da Lumus Corporation, explicou, em sua fala, que o objetivo da secagem e pré-limpeza é reduzir as impurezas e acondicionar o algodão para o beneficiamento. “Aproximadamente 80% das impurezas são removidas na pré-limpeza e o dano é mínimo”. Ele lembrou ainda que é importante não processar o algodão mais do que o necessário para tirar as impurezas, pois isso afeta a qualidade.

Fonte: Assessoria de Imprensa e Comunicação do 10º CBA

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