Presidente da ABAPA fala da cultura do algodão para a revista A Granja

Publicado em: 23 de abril de 2015

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A Região Oeste da Bahia faz do estado o segundo maior produtor de algodão, atrás apenas do Mato Grosso. E a região mostra ao País um dos agronegócios mais desenvolvidos e que mais lança mão de tecnologias, obra de empreendedores como Celestino Zanella, catarinense de nascimento, paranaense de formação (acadêmica e profissional) e agora baiano como liderança. Zanella, que cultiva a pluma em mais de 2.200 hectares, é desde o final de 2014 o presidente da Associação Baiana de Produtores de Algodão, a Abapa, até o final de 2016. Liderar a instituição que defende o algodão e, sobretudo, os cotonicultores é apenas mais uma missão dessa liderança nata, que já esteve à frente ou como colaborador de outras entidades, tanto na Bahia como no Paraná.

A Granja — Qual é o envolvimento do produtor rural Celestino Zanella com a agricultura?

Celestino Zanella — Nasci em 21 de maio de 1959, no município de Porto União, estado de Santa Catarina. Mudei-me para Cascavel/PR no dia 3 de julho de 1970, por motivos de doença, pois tinha reumatismo. Por isso acredito que, como é uma doença típica de idosos, já tive minha parte, creio que não terei novamente. Em 1976, não fiz vestibular, pois fui selecionado para servir o Exército, em Brasília. Na época, era muito interessante, pois conheceria um lugar novo e meu irmão tinha servido lá. Fiz vestibular em 1977 para Administração de Empresas na Faculdade de Ciências e Letras de Cascavel (Fecivel).Passei e ingressei no ano seguinte.

No primeiro semestre, a Fecivel ofereceu Engenharia Agrícola. Fiz o vestibular e passei, para minha surpresa. E terminei o curso de Administração de Empresas. Comecei Engenharia Agrícola e parei, pois precisava trabalhar para comer e estudar de manhã, tarde e noite.

Fiz uma especialização em Estratégia pelo Inbrape, de Londrina/PR, e MBA pela Getúlio Vargas. Sou casado com Marilene Zancanaro, e temos três filhos: Elisa, 29 anos, bióloga, casada com Hugo Andrade, com que tem dois filhos: Hendri, 6 anos, e Clara, 3 anos; Ariel, 24 anos, agrônomo; Anna Maria, 18 anos, estudante de Agronomia. Meu sogro, Nelsir Antônio Zancanaro, e seus irmãos tinham comprado terras em Unaí/MG e Paranatinga/MT. Após cisões entre ele e seus irmãos, parte da terra de Minas Gerais e Mato Grosso ficou para o meu sogro, que doou parte aos seus sete filhos.

Em 1997, houve uma nova cisão entre o sogro e seus filhos. Três filhos ficaram com as terras do Mato Grosso, e Nelsir Zancanaro, sua esposa, Maria Bigolin Zancanaro, e os outros quatro filhos, Marilene Zancanaro Zanella, Gilberto Zancanaro, Marilete de Fátima Zancanaro Motter e Sandro Zancanaro ficaram com as terras em Minas Gerais, perfazendo um total de 3.249 hectares. Iniciamos a irrigação em 1988 em Unaí e, gradativamente, ampliamos e compramos mais algumas propriedades anexas. Em 2003, após andarmos muito pelo Centro-Oeste, surgiu a possibilidade para comprarmos uma área na Bahia, em São Desidério. Viemos ver, examinamos os documentos, planejamos a propriedade, compramos 4 mil hectares e começamos a abertura da futura Fazenda Decisão, em São Desidério, com 2.500 hectares irrigados. Em 2008, compramos a antiga Fazenda Cassol, com 4.538 hectares.

Hoje a Fazenda Decisão Rio Branco tem 2.720 hectares irrigados. Trabalhamos muito, unidos em condomínio familiar. Cumprindo todos os trâmites legais de cada etapa, com muito respeito pelo Cerrado e pela oportunidade de sermos pioneiros, vislumbrando uma região para nossos netos. Produzimos soja, milho, algodão, feijão, em uma rotação agronômica e econômica.
Também desenvolvemos estudos para outras culturas, a última é a cevada.

A Granja — E a sua participação em entidades classistas?

Zanella — Quando chegamos aqui, fui na Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), pois nos disseram que deveríamos pertencer à Aiba. Falei com o Sergio Pitt e nos colocamos à disposição. Participei como representante na Câmara Setorial de Milho e Sorgo, no Ministério da Agricultura, na gestão do Presidente Humberto Santa Cruz. Fui diretor administrativo por quatro anos na gestão do Presidente Walter Horita, e como vice-presidente na Gestão do Júlio Cesar Busato. Foi um privilégio. Fomos eleitos para diretoria da Associação dos Produtores de Algodão da Bahia para 2015-2016. Estou presidente. Participamos também da Cooperativa Coagril de Unaí, da Cooperaba, em Barreiras/BA, e da Cooperfarms, em Luís Eduardo Magalhães/BA. Fui vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Cascavel, presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresa de Cascavel e Tesoureiro da Associação Comercial e Industrial de Toledo/PR.

A Granja — Quais são os principais objetivos e as metas da Abapa sob sua gestão em prol do algodão e do produtor baiano?

Zanella — A Abapa tem como metas, além de incentivar, expandir e melhorar a produção de algodão, alguns objetivos que representarão enorme esforço de todos os cotonicultores. A Abapa tem o Projeto de Conservação dos Recursos Naturais da Lavoura de Algodão e Escoamento da Produção, conhecido também como Patrulha Mecanizada, com recursos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), a recuperação, contenção das águas, elevação, compactação, colocação de cascalho e drenagem das estradas com a participação, liderança e eficiência das associações de produtores locais, produtores, prefeituras de São Desidério, Barreiras, Formosa do Rio Preto, Luís Eduardo Magalhães e outros municípios onde a Abapa atua.

Já recuperamos mais de 500 quilômetros de estradas. Também o Projeto Fitossanitário, em conjunto com Aiba, Fundação Bahia e entidades de classe, que tem como objetivo o manejo e o controle de doenças e pragas nas lavouras. Trabalhamos arduamente na elaboração de uma cartilha de como orientar os produtores no uso de defensivos, rotação de princípios ativos, controle biológico, monitoramento, datas de plantio, refúgios e vazios sanitários.

A Granja — Muito se fala na necessidade de o Brasil produzir algodão de qualidade, para assim atender necessidades de mercados externos exigentes. O que a Abapa e o produtor baiano têm empreendido nesse sentido?

Zanella — Fizemos a modernização do laboratório de análise de HVI, em Luís Eduardo Magalhães e em Roda Velha, município de São Desidério, o mais moderno do País. Tem capacidade de analisar 25 mil amostras por dia.
Lavouras altamente mecanizadas, solos corrigidos dentro das melhores condições agronômicas, treinamos insistentemente os colaboradores através do centro de treinamento Abapa/Agrosul/ John Deere, Senar, Senai e proprietários, através de convênios com as universidades Getúlio Vargas e Universidade Federal da Bahia. Um dos objetivos da Abapa é capturar cada centavo possível depois da porteira da fazenda, já que dentro da fazenda hoje somos considerados eficientes, com produtividade e qualidade de fibra comparáveis com o que tem de melhor no mundo em termos de algodão mecanizado.

Temos deficiência no setor secundário. Aqui é onde a Abapa, com recursos do IBA, pretende iniciar a próxima etapa, com a construção de uma extração química de óleo do caroço de algodão, projeto em estudo e em fase de elaboração de projetos finais e construção na localidade de Roda Velha, município de São Desidério, da primeira indústria dos produtores de algodão da Bahia.

A Granja — Quais as perspectivas quanto à produção de algodão no Oeste da Bahia na safra 2014/15? Houve diminuição de área? Por quê?

Zanella — A área de algodão prevista para a Bahia era de mais de 300 mil hectares, porém, depois da pouca precipitação pluviométrica em dezembro e início de janeiro, confirmou-se o plantio no final do vazio sanitário de 277.246 hectares. Diminuição de 13,5% em relação ao ano anterior. Logicamente que os custos de produção, a logística deficitária para exportação através dos portos da Bahia, o fraco desempenho do mercado doméstico, aliados a preços internacionais fracos, estoque alto, mais a facilidade do plantio e da comercialização da soja contribuíram para a queda da área de algodão.

A Granja — E quanto à rentabilidade, com o dólar valendo mais de R$ 3 (meados de março)? O produtor de algodão vai ter lucro nesta safra? E a disparada recente do dólar influenciou nos custos de produção do cotonicultor?

Zanella — Lucro é consequência de trabalho bem feito na lavoura, compra de insumos nos preços e hora certa, travamento de contratos, câmbio, na proporção das dívidas dolarizadas ou em reais, chuvas e, finalmente, a colheita com produtividade e qualidade em condições de cumprirmos o planejado.
A Granja — Quais os principais problemas que enfrenta o produtor baiano de algodão? E o que fazer para que isso seja resolvido?

Zanella — Logística. Concluirmos a Ferrovia Leste Oeste (Fiol) e o porto de Ilhéus. Conectarmos à Ferrovia Norte Sul. Conservar, fazer projetos para asfaltar as rodovias secundárias. Duplicar trechos das Rodovias BR-242 e BR- 020. Desonerar impostos de insumos diretos usados na produção, por exemplo, diminuir o ICMS do plástico usado nas máquinas de colher algodão.

A Granja — No caso específico da Helicoverpa armigera, anotada no Brasil pela primeira vez em lavouras baianas, esse problema está sob controle no Oeste Baiano? O produtor baiano aprendeu a manejá-la? Ele tem à disposição defensivos em diversidade e eficientes?

Zanella — A Helicoverpa armigera possivelmente será nome de crianças no futuro próximo, pois discutimos exaustivamente nos últimos anos a respeito dessa máquina de comer. Mas também aprendemos muito sobre todas as demais pragas e doenças do algodão e outras culturas. Trouxemos inúmeros especialistas nas mais diversas áreas do Brasil e exterior. Mandamos pessoal das fazendas e especialista para o exterior.

Fizemos seminários diversos, enfim, aprendemos muito. Conhecemos melhor esse inimigo e trouxemos armas biológicas, vírus, desenvolvemos bactérias, e foram liberadas, mesmo que temporariamente, novas moléculas de inseticidas químicos para combatê-la. Além do manejo certo com as culturas. Nunca vimos tantos doutores andando no Oeste da Bahia por sua causa.

A Granja — O Governo Federal tem sido um bom parceiro do produtor brasileiro de algodão? Sobretudo com os programas de comercialização?

Zanella — Temos créditos, tivemos Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural) na comercialização, um pouco lento, nossa opinião, mas tivemos. Foi um bom parceiro no embate com os Estados Unidos.

A Granja — E qual a sua opinião do início da gestão da ministra Kátia Abreu? Foi uma boa escolha da presidente Dilma Rousseff?

Zanella — A ministra Kátia Abreu é uma conhecedora de toda a região do BAMAPITO (Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins), e também de todos os anseios da agricultura brasileira. Com certeza, com ela, teremos a abertura e a possibilidade de contribuirmos, através de nossas associações, CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), sindicatos e entidades de classe, uma melhoria constante e progressiva no desenvolvimento da nossa região.
A Granja — Que avaliação o senhor faz do algodão do Oeste Baiano, que faz do estado o segundo maior produtor de pluma do Brasil, e do algodão brasileiro como um todo?

Zanella — O algodão da Bahia e brasileiro têm um papel muito importante na agricultura brasileira. Foi um dos pilares em melhorias, usos das aplicações tecnológicas em nossas máquinas, trabalhadores e empreendedores. E fixação de trabalhadores especializados e eficientes. Somos um exemplo de sistema produtivo na agricultura.

Fonte: Abrapa
Leandro Mariani Mittmann
leandro@agranja.com

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