Entrevista com o Presidente da Abapa, Júlio Cézar Busato

Publicado em: 14 de maio de 2018

1 – Quem é Júlio Busato, por Júlio Busato?
R. Sou engenheiro agrônomo e agricultor, nascido na cidade de Casca, no Rio Grande do Sul. Vim para o oeste da Bahia, em 1987, juntamente com a minha esposa Renate, e o meu filho, Cézar, na época com nove meses de idade, buscando um horizonte de maior crescimento e novas oportunidades.

2 – Gostaríamos de saber um pouco da trajetória do produtor Rural na Região Oeste da Bahia.
R. Somos um grupo familiar, e viemos para cá com meu pai Hélio, minha mãe, Olívia, e meus irmãos, Roberto, Marcos e André. Iniciamos com uma fazenda arrendada, e depois compramos uma propriedade, e com muito trabalho, dedicação e muitas privações conseguimos nos estabelecer na produção de grãos na região. E hoje, juntos e unidos, conseguimos crescer e avançar, e nosso grupo tem quase 800 funcionários que trabalham conosco. Imprimimos esse trabalho de dedicação e prosperidade na equipe reforçando a ética do trabalho, respeito e oportunidades para o desenvolvimento socioeconômico da nossa região.

3 – Como surgiu a ABAPA?
R. A Abapa foi criada em 2000 diante da necessidade de organizar a cadeia produtiva e buscar tecnologia para a produção de algodão. Fomos incentivados a nos organizar principalmente para o controle fitossanitário do bicudo do algodoeiro, uma praga que já destruiu 4 milhões de hectares no nordeste brasileiro. Não podíamos permitir que isto acontecesse conosco no oeste da Bahia. O sucesso obtido foi graças à dedicação dos agricultores e do programa Proalba, aprovado pelo Governo da Bahia, que muito tem nos ajudado. Por meio da associação, fortalecida com o passar do tempo com o trabalho de todas as diretorias, foram incorporadas tecnologia e manejo para evitar a proliferação desta praga. Depois de quase 18 anos, continuamos a fazer um trabalho de relevância não somente para os produtores rurais e cotonicultores, mas para toda a sociedade, por meio de ações que envolvem o treinamento e capacitação dos funcionários da área agrícola, recuperação de estradas vicinais e das nascentes, adoção de critérios de sustentabilidade e certificação internacional para o algodão baiano, dentre outros.

4 – Qual a maior dificuldade que o produtor rural enfrenta na safra, especialmente na área do algodão?
R. Hoje, a maior dificuldade não é produzir. Já dominamos a tecnologia e usamos o que temos de melhor em sementes, máquinas e implementos, preparamos as nossas equipes de trabalho, e contamos com excelentes profissionais. Nosso maior problema é acompanhar e cumprir todas as regras, normativas e legislações que mudam de forma rápida e constante. Isto nos leva a uma insegurança jurídica, seja nas questões fundiária, ambiental e trabalhista. Embora tenhamos investido para respeitar e cumprir todas as leis, adotando, inclusive, critérios socioambientais nas propriedades, somos sistematicamente atacados, muitas vezes, sem sentido, por Ong´s e membros da área ambiental que desconhecem o que é feito no campo por pura desinformação e muitas vezes, deturpando a imagem do agricultor perante à sociedade. Outros problemas vivenciados pelos produtores rurais são a segurança no campo e a logística e infraestrutura de estradas, energia elétrica e telefonia que dificultam o escoamento da produção e do maior desenvolvimento socioeconômico regional da nossa região.

5 – A ABAPA desenvolve inúmeros projetos em benefícios da sociedade e apoia muito a causa social, gostaríamos que falasse um pouco desses projetos?
R. Com as ações para o suporte da Abapa à cadeia produtiva do algodão, há programas que beneficiam diretamente a população local. É o caso do Centro de Treinamento Parceiros da Tecnologia da Abapa, que capacitou somente no ano passado cerca de 6,3 mil com a promoção de 236 cursos e treinamentos, para quem trabalha no campo ou nos escritórios das fazendas. Outra ação recente foi a programa de recuperação de nascentes de rios, que em parceria com as prefeituras, vem identificando as nascentes, e capacitando os técnicos, para a proteção e recuperação de nascentes, o que já aconteceu em Barreiras, São Desidério e Wanderley, e que beneficia diretamente quem depende destas nascentes. Também recuperamos as estradas para escoamento da produção, mas com o viés de proteger os rios e córregos, ao fazermos as contenções para evitar o assoreamento. Foram mais de 1,2 mil quilômetros de estradas recuperadas que beneficia quem mora na zona rua. Nosso programa de sustentabilidade da Abapa atua com um pilar social muito forte, ao incentivar a adoção de critérios de sustentabilidade com respeito às leis ambientais, trabalhistas. E, de maneira direta, participamos também do Fundesis, que é um programa da Aiba [Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia], no qual os produtores rurais em parceria com o Banco do Nordeste que em 12 anos aplicou R$ 4 milhões para investir em projetos sociais da região.

6 – Ao longo dos anos, a ABAPA vem crescendo a cada dia em ações, projetos e programas. Esse crescimento vem acompanhado de um momento onde o Agronegócio é visto como um dos segmentos que mais contribuem com a economia brasileira. Como o Sr vê esse crescimento e o momento positivo pelo qual o Agronegócio vem passando?
R. O crescimento é fruto do trabalho, da dedicação e da tecnologia que os produtores foram buscar juntamente com as universidades, Embrapa, as empresas de insumos e fertilizantes agrícolas. O agricultor brasileiro é hoje quem mais produz, mas quem mais gasta, diante da necessidade do uso de defensivos para combate às pragas e doenças e de fertilizantes para o solo e é também o que menos ganha. Além das questões no campo, temos também uma logística que encarece o custo para o produtor e um excesso de tributação. Em resumo: o produtor brasileiro está produzindo demais e ganhando de menos. É fundamental melhorar a rentabilidade do produtor, e a receita é reduzir o custo de produção com as melhorias de infraestrutura para escoar a produção, e reduzir os tributos para que possamos ser mais competitivos no mercado nacional e internacional.
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