Renda agrícola ameniza alta menor do salário

Publicado em: 6 de junho de 2011

Depois de crescer com força em 2010, a renda e o emprego avançam a um ritmo mais moderado neste ano. O menor reajuste real do salário mínimo desde 2003, a desaceleração da atividade econômica, com a expectativa de uma demanda mais fraca, e a inflação mais alta contribuem para o avanço mais contido do rendimento, tanto do trabalho quanto das aposentadorias. No sentido contrário, o bom resultado da safra agrícola deve garantir um desempenho mais positivo para a renda agropecuária.

Para a massa de rendimentos do trabalho e da Previdência, a expectativa é de uma desaceleração razoável neste ano – a LCA Consultores projeta aumento de 3,3% já descontada a inflação, bem menos que os 7% do ano passado.

Já a renda agropecuária deve subir de modo expressivo – a MB Agro estima aumento de quase 25% (sem descontar a inflação) neste ano, para R$ 141 bilhões. São R$ 28 bilhões a mais que chegarão às mãos dos produtores, recursos que terão um efeito multiplicador importante nas regiões que dependem mais da agricultura e da pecuária, devendo ajudar a estimular o consumo. Ainda que nem todo esse dinheiro seja destinado à demanda, é um montante significativo. Considerando apenas os empregos formais (privados e públicos) registrados no Relatório Anual de Informações Sociais (Rais), se a massa salarial subir 10% em 2011 (3% a 3,5% em termos reais), haverá uma alta de R$ 7,6 bilhões na renda dos salários.

O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, diz que os números de abril da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE trouxeram evidências significativas da desaceleração do rendimento. Não apenas a renda avançou menos em termos reais, por conta da inflação mais elevada, como também perdeu gás em termos nominais. Em abril, os salários nominais cresceram 8,1% em relação a abril de 2010, um ritmo ainda forte, mas inferior aos 10,1% de março deste ano e bem menos que os 12,7% de dezembro do ano passado, na mesma comparação. Em termos reais, a renda subiu em abril 1,9% sobre igual período de 2010, menos que os 3,8% de março e que os 6,5% de outubro de 2010.

“A recente perda de força da renda tem um componente que se deve à inflação mais alta, mas o número de abril tem algo que vai além dos índices de preços mais elevados”, diz o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria.

A combinação de uma inflação média mais elevada com menor crescimento econômico explica esse desempenho mais fraco, diz Romão. Ele observa que, em 2011, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) médio (usado para calcular salários em termos reais) deverá ficar em 6,6%, bem acima dos 5,1% de 2010. “Isso deve dificultar a obtenção de aumentos salariais acima da inflação. É mais fácil conseguir reajuste real de 2% quando a inflação é de 5% do que de 6,5% ou 7%”, diz ele, lembrando que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá bem menos que os 7,5% do ano passado – a LCA estima aumento de 3,4%, enquanto a Tendências aposta em 3,9%.

Jensen diz que a desaceleração econômica contribui de fato para um crescimento menos expressivo da renda neste ano, embora ele acredite que, com a inflação mais baixa esperada para o período entre junho e agosto, o rendimento real voltará a ter altas mais fortes na comparação com os mesmos meses de 2010. Ele projeta expansão de 2,6% para a renda real nas seis principais regiões metropolitanas, um número mais otimista que o 1,7% estimado por Romão. Em 2010, o aumento foi de 3,8%.

Romão chama a atenção para o aumento do salário mínimo neste ano, de apenas 0,4%. Em 2009 e 2010, o reajuste real ficou na casa de 6%. “Isso tem um impacto grande na renda dos aposentados, já que dois terços dos beneficiários da Previdência recebem o salário mínimo.” Por conta do aumento modesto do piso salarial, ele espera que o conjunto da renda do trabalho e da Previdência cresça apenas 1%, já descontada a inflação, bem abaixo dos 3,9% de 2010.

A situação na agropecuária é diferente. A analista Ana Laura Menegatti, da MB Agro, diz que o segmento passa por um ano positivo pela combinação de preços em alta e bons resultados em termos de volumes produzidos. “O preço da saca de milho em Mato Grosso, que estava em R$ 7,20 em junho de 2010, está agora em R$ 16. Houve um aumento de mais de 100%”, exemplifica ela. Para Ana Laura, o aumento de quase 25% da renda agropecuária apropriado pelos produtores tem efeitos irradiadores nas regiões ligadas a essas atividades, devendo estimular o consumo.

A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, lembra que “apesar da baixa participação da agropecuária no PIB, os efeitos multiplicadores do aumento de renda não são negligenciáveis, sendo fator de expansão do consumo no interior”. Ela destaca o resultado das vendas de veículos por Estado de janeiro a abril, na comparação com o mesmo período de 2010. “Nesse período, destacaram-se as vendas de automóveis no Amapá, Maranhão, Roraima, Pará, Paraíba, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, todos beneficiados tanto pelo processo de melhora de distribuição de renda quanto da ampliação da renda agrícola”. Em Mato Grosso e Goiás, por exemplo, a alta ficou na casa de 10%, bem mais que o 0,9% de São Paulo.

Fonte: Abrapa

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