Sob as regras do jogo

Publicado em: 31 de agosto de 2010

Cotonicultura cai a 3% no Paraná após década de prejuízo, em parte provocado por subsídios norte-americanos O algodão ganhou míseros 99 hectares no último ano no Paraná. A área, estimada pelos técnicos do governo do estado, equivale 3% da que foi plantada na safra anterior.

A queda de 97% representa um golpe de misericórdia na cotonicultura do estado que, no início dos anos 90, era responsável por metade da oferta nacional.
E isso numa época em que o país terá de importar o produto (veja ao lado).
Para os que previam o renascimento do algodão a partir do plantio adensado, resta só esperança.

A produtividade média do estado caiu a 2,4 toneladas de algodão em caroço por hectare, ao mesmo tempo em que passou de 4 toneladas em Mato Grosso, atual líder na produção com 430 mil hectares ? metade da área nacional.
Os motivos técnicos para a decadência da cotonicultura são bem conhecidos do setor.

Mas, além deles, estão as razões que levaram o Brasil a recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios praticados nos Estados Unidos.
A disputa internacional, iniciada em 2002, teve resultado em 2009.
Os árbitros decidiram que o Brasil tinha direito de retaliação de US$ 249 milhões.
Negociação entre as partes fechada em abril deste ano prevê o repasse de US$ 147 milhões aos produtores brasileiros por meio de um fundo.

Esse acordo adiou a retaliação.

O Brasil não quis provocar maior atrito no comércio bilateral.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a compensação vem sendo paga em parcelas. O repasse pode somar US$ 1 bilhão até 2012, para quando está prevista a suspensão dos subsídios.

O presidente da Abrapa, Haroldo da Cunha, afirma que os produtores do Paraná serão beneficiados só indiretamente, se os recursos forem usados em projetos que revigorem a produção regional.

Uma das prioridades é a difusão de tecnologias, cita.
Os projetos devem ser avaliados pelos administradores do fundo de compensação ? grupo com representantes do governo federal e do setor.
Derrotados pela concorrência internacional, os cotonicultores do Paraná acumularam dívidas (veja acima). Muitos ainda não estabeleceram relação entre seu drama e os subsídios. A evolução da cotonicultura ? com sementes transgênicas resistentes a insetos e tolerantes a herbicidas mais adaptadas ao Centro Oeste e a mecanização da colheita ? colocou o Paraná em desvantagem no mapa brasileiro da produção.

A umidade atrapalha o desempenho das máquinas por aqui.
Além disso, hoje são necessárias grandes áreas para ganhar escala e reduzir custos. A compra de uma colheitadeira (que podem passar de R$ 500 mil) só se justifica a partir de 400 hectares. Apesar da crise no Paraná, a produção brasileira tende a crescer, avalia o presidente da FMC na América Latina, Antônio Carlos Zem. A empresa é a principal fornecedora de insumos aos produtores brasileiros.
A safra passada, inicialmente prevista em 1,28 milhão de toneladas, ficou em 1,07 milhão, exatamente o consumo interno. A questão é que o setor vende a colheita com até três anos de antecedência e alega que precisa exportar 300 mil toneladas.
Para voltar a produzir, o Paraná precisa alcançar regiões cada vez mais preparadas.

Além de avançar em produtividade, o setor adere a programas de qualidade como o Better Cotton, que exige a adoção de boas práticas ambientais e a adequação à legislação trabalhista. Para regularização das propriedades, o setor adota o Programa Socioambiental da Produção de Algodão (Psoal). Um primeiro diagnóstico já foi feito e a adequação será geral nos próximos anos, afirma a assessora da presidência da Abrapa Silmara Ferraresi.

Fonte: Agrolink

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