Pulverização por aviação agrícola é defendida por especialistas, em audiência pública na Bahia

Publicado em: 5 de setembro de 2023

A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) participou, nesta terça-feira (5), da audiência pública realizada na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), em Salvador, que debateu o Projeto de Lei que proíbe a pulverização aérea de defensivos agrícolas no estado. A audiência foi promovida pela Comissão de Agricultura e Política Rural, convocada pelo seu presidente, o deputado estadual Manuel Rocha (União Brasil), um dos opositores ao projeto que tramita na casa, de autoria do deputado estadual Hilton Coelho (Psol). A técnica, utilizada no país há mais de 60 anos, integra a matriz de Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIP) do cotonicultor baiano, e é forte aliada no combate a pragas como o bicudo-do-algodoeiro, de grande relevância econômica e social no estado.

Pesquisadores e cientistas defendem que a pulverização agrícola é a tecnologia que permite mais precisão e eficiência no uso dos insumos além de ser a de menor exposição para os operadores, sobretudo quando comparados com modelos como a aplicação intercostal, na qual o contato entre o operador do instrumento e a bomba de aplicação é estreito.

O professor José Domingos, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) é químico de formação, com mestrado e doutorado em Química Ambiental, disciplina que ministra na Ufob. De acordo com sua colocação na audiência, a proibição da pulverização por aviação agrícola seria um retrocesso do ponto de vista ambiental e econômico.

“No plano ambiental, a proibição significaria aumentar significativamente a quantidade de pesticidas aplicados na área. Estes produtos, aplicados em excesso, manualmente, serão lavados pela chuva e, em algum momento, encontrarão os corpos hídricos. No que tange à economia, sem a pulverização aérea, aumentam-se os custos de produção e diminui-se a produtividade nas lavouras, consequentemente, vai haver menos disponibilidade de alimentos, a preços ainda mais altos”, afirma o professor.

José Domingos ressalta que “não há logica” em querer reduzir a quantidade de produtos químicos aplicando até dez vezes mais produto por área. “É uma conta que não fecha”, diz. Quanto ao risco de “deriva”, que é quando o produto pulverizado ultrapassa os limites da lavoura, levado pelo vento, o professor diz que este é um problema que vem sendo dia a dia solucionado com pesquisa e tecnologia, “com aumento da densidade, da energia de coesão entre as moléculas, para que elas pesem mais e precipitem apenas na área desejada, e, sobretudo, com o conhecimento aprofundado da climatologia local que ajuda a reduzir a quase zero os níveis de deriva. Vale lembrar que os métodos de aplicação são complementares e não exclusivos. Não dá para usar só avião ou só trator”, concluiu.

Prejuízos

Quem também esteve presente à audiência pública foi o agrônomo e doutor em toxicologia pela Universidade de León, na Espanha, professor aposentado da Universidade de Passo Fundo, Claud Goellner. Segundo ele, o exemplo claro do que pode acontecer, caso seja aprovado o projeto de acabar com a pulverização por aviação agrícola na Bahia, é o do Ceará.

“Depois que foi proibida a pulverização, os prejuízos para aquele estado, segundo o governo cearense, já ultrapassam a casa dos R$100 milhões, e muitos produtores, como os de banana, estão quebrando, pois o combate à sigatoka-negra (doença causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis)  deixou de ser aéreo para ser manual, com aplicação intercostal, que é ineficiente e provoca maior exposição do aplicador ao produto”, diz.

Para Goellner, além da técnica ser mais eficaz e segura, o nível de qualificação dos operadores é muito maior, no caso da pulverização aérea. “Estamos falando de uma atividade que já está presente há mais de 60 anos no Brasil, que é altamente regulamentada e fiscalizada, nos níveis municipal, estadual e nacional”, argumenta.

Qualificação

De acordo com o presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, o produtor rural, em especial, o cotonicultor, é um grande incorporador de tecnologias e tem preocupação estratégica com a sustentabilidade, o que passa pelo uso racional dos recursos ambientais, financeiros e humanos. “Não interessa ao produtor gastar mais produtos que o necessário e pôr em risco a saúde de seus colaboradores ou a natureza. Pelo contrário, na Abapa promovemos qualificações especificas para coordenadores e executores de aviação agrícola, que são, respectivamente, engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas que analisam todas as condições de voo e da ‘calda’, para assegurar uma aplicação segura, ainda no solo. Este curso é um sucesso e fomos a primeira associação de produtores rurais do país a implementá-lo. Sempre nos adiantamos em buscar soluções para os problemas. Espero que, com os estudos e dados apresentados, a questão seja esclarecida para os parlamentares e a opinião pública”, finalizou Bergamaschi. Dentre as entidades que defenderam o uso da aviação agrícola na pulverização, estavam a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb) e o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).

 

05.09.2023

Imprensa Abapa

Catarina Guedes – Assessora de Imprensa

(71) 9 8881-8064

Compartilhar:
;